Um cargo no Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) valia R$ 200 mil ou R$ 300 mil. Uma absolvição em processo administrativo saía por R$ 100 mil. Os valores constam de um vídeo de 1 hora, 3 minutos e 45 segundos de duração feito de maneira amadora por um investigador e seu advogado, em outubro de 2007. Eles gravaram a conversa que tiveram com o advogado Celso Augusto Hentscholer Valente, ex-sócio e responsável pela manutenção do escritório de advocacia do ex-secretário adjunto de Estado da Segurança Pública, Lauro Malheiros Neto, no cargo à época.
Malheiros Neto pediu afastamento da secretaria em maio de 2008, após denúncias de ter supostamente beneficiado o investigador Augusto Pena. Preso por achaques contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), Pena recebeu o direito à delação premiada e tem feito uma série de acusações de corrupção policial. Cópias do DVD - o áudio tem baixa qualidade e a legenda nem sempre acompanha o diálogo - estão nas mãos dos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Guarulhos e de São Paulo.
O vídeo se junta às denúncias de Pena. Segundo o investigador, Malheiros Neto e Valente comandavam um esquema de venda de cargos e de sentenças de processos administrativos (PAs) para reintegrar e manter policiais corruptos na polícia - o adjunto assinava as decisões em nome do titular da pasta, Ronaldo Bretas Marzagão, de quem era homem de confiança. Os promotores estão atrás do investigador e do advogado para ouvi-los.
Defesa
O advogado Celso Valente negou ter ;vendido; cargos na Polícia Civil ou intermediado a ;absolvição; de policiais em processos administrativos. Em entrevista ao Estado, ele afirmou que os ;200 paus; mencionados na conversa gravada eram relativos a honorários. ;Esse rapaz, que, se salvo engano, se chama José Luiz e teve problemas numa operação da PF, me procurou dizendo que poderia arregimentar pessoas para um esquema de reintegração (de cargos), o que nunca existiu;, contou.