O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, culpou ontem a coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco pelas mortes de quatro seguranças das fazendas Jabuticaba e Consulta, localizadas no municÃpio de São Joaquim do Monte, no agreste pernambucano, no último dia 21. Assim como fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira, Cassel considerou ;inaceitável; o argumento de legÃtima defesa usado pelos lÃderes dos sem-terra para justificar as mortes. ;Foi completa irresponsabilidade da coordenação do movimento. Acho que, agora, isso é um problema de polÃcia. Essas mortes não podem ser encaradas de forma natural;, disse.
Com ligações polÃticas históricas com o MST, o petista Cassel não aceita a desculpa de que o agravamento do conflito em Pernambuco levou à s mortes dos seguranças. E classificou de irracionalidade dos lÃderes dos sem-terra a elevação do nÃvel de tensão na área. ;O MST, tanto quanto os fazendeiros, tem que ter um mÃnimo de bom senso e de racionalidade para saber até onde vão levar o conflito. Quando se leva o conflito para uma situação limite, você é responsável por isso;, criticou.
Cassel também lembrou que os lÃderes dos sem-terra poderiam ter chamado a ouvidoria do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para intermediar o conflito e evitar as mortes. ;Os sem-terra poderiam muito bem ter chamado o Incra, nós colocarÃamos a ouvidoria agrária lá;, lamentou. Cassel também lembrou que os crimes poderiam ser evitados com a intervenção do governo de Pernambuco, que, segundo ele, é parceiro dos movimentos sociais.
Responsável pelo programa de reforma agrária do governo, o ministro fez questão de separar as situações de Pernambuco e a do Pará, onde os sem-terra invadiram três fazendas do grupo agropecuário Santa Bárbara, que tem como um dos sócios o banqueiro Daniel Dantas. Segundo Cassel, as invasões no Pará são polÃticas e foram decididas em resposta à s declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, que criticou o repasse de verbas do governo para entidades ligadas ao MST . ;No Pará, a ação dos movimentos sociais é natureza polÃtica. É do jogo;, justificou.
Desarmamento
Depois de uma longa reunião com a participação do ouvidor agrário nacional, Gercino Silva Filho, de representantes do MST, dos proprietários das fazendas, polÃcias Federal e Militar e promotoria agrária estadual, os sem-terra aceitaram desmontar o acampamento da fazenda Jabuticaba, onde ocorreram as mortes. O Incra deve acompanhar a saÃda dos agricultores hoje e fará vistoria na área.
Durante a reunião, realizada em Recife, a comissão nacional de combate à violência no campo decidiu exigir do governo de Pernambuco uma operação para desarmar todos os militantes dos movimentos pró-reforma agrária no estado. ;A meta é que se tomem as providências para acabar com todo tipo de milÃcia que está atuando na zona rural de Pernambuco, principalmente quando armada e de forma ilegal;, afirmou Silva Filho.
A decisão de desarmar o campo, inclusive as fazendas privadas não invadidas pelos sem-terra, foi tomada em conjunto. No entanto, o coordenador do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, vê dificuldade no desarmamento dos seguranças das usinas de álcool e açúcar do estado. ;É um sonho;, criticou. O delegado responsável pela apuração das mortes nas duas fazendas, Luciano Francisco Soares, ainda procura dois sem-terra foragidos, suspeitos de terem participado do crime.
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