Jornal Correio Braziliense

Brasil

Câncer avança no país

Previsão é de que 2009 tenha quase meio milhão de novos diagnósticos. Mesmo com progressos da medicina, taxa de mortalidade cresce: 14,5% nos casos em mulheres e 11,4% nos surgidos em homens

Neste ano, 466.730 brasileiros receberão o diagnóstico de câncer. A doença, que avança em todo o mundo, deverá atingir 234.870 mulheres e 231.860 homens, segundo a estimativa mais recente do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A taxa de mortalidade dos portadores das chamadas neoplasias malignas está em alta, de acordo com o Ministério da Saúde. De 2000 a 2005, o número de óbitos em cada 100 mil provocados pelos mais variados tipos de câncer cresceu 14,5%, no caso de mulheres; e 11,4%, em relação aos homens. O alto índice de morbidade faz com que os tumores malignos ocupem o segundo lugar no ranking das doenças que mais matam no país, perdendo apenas para as complicações do aparelho circulatório. O tipo de câncer que mais vai afetar os brasileiros neste ano é o de pele não-melanoma, com 115.010 incidências previstas. Em seguida, vêm os de próstata (49.530) e de mama (49.400). Entre as mulheres, depois do câncer de mama, o que terá mais ocorrências é o de colo de útero (18.680), e cólon e reto (14.500). Já entre os homens, os cânceres de traqueia, brônquio e pulmão (17.810) serão os de maior incidência, seguidos por estômago (14.080), cólon e reto (12.490), e cavidade oral (10.380). Para calcular a estimativa de novos casos, o Inca utiliza o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e os registros de base populacional, passados pelos municípios. Como somente 20 cidades brasileiras abastecem o banco de dados, não é possível fechar números concretos de incidência, apenas estimativas. Já a mortalidade é comprovada pelos atestados de óbito. Longevidade De acordo com o oncologista Ricardo Caponero, do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, o aumento no número de casos está relacionado à longevidade da população, cada vez maior. Como um dos fatores de risco do câncer é a idade do paciente ; quanto mais velho, maior a probabilidade ;, é natural que a incidência cresça. ;Para se ter uma ideia, calcula-se que, em todo o mundo, haverá o dobro de casos em 2023;, diz. Caponero também explica que a cura de outras doenças que antes eram fatais, como a pneumonia, ajuda a elevar as estatísticas de câncer. O médico alerta que a doença também tem como causas a pré-disposição genética e a exposição ambiental a fatores como cigarro e poluição. Embora mudanças de hábitos possam ajudar a combater o aparecimento das neoplasias malignas, a medicina ainda não conseguiu prevenir o surgimento do câncer. O diagnóstico precoce, um aliado na luta contra a doença, ainda é um problema no Brasil. De acordo com Caponero, o tempo médio de espera para o resultado de uma biópsia feita pelo Sistema Único de Saúde é de um mês. E, quando se trata de câncer, cada minuto é importante para o paciente. A rapidez no diagnóstico é fundamental para se chegar à cura da doença. Cautela O oncologista do Hospital Sírio-Libanês Celso Massumoto observa que é preciso cuidado ao se falar na cura da doença. De acordo com ele, o acompanhamento do paciente deve ser permanente, para evitar que o tumor sofra metástases e se torne reincidente, como o câncer do vice-presidente da República, José Alencar, que, desde 1997, já fez oito cirurgias para retirada de tumores malignos. Descoberto em 2006, o câncer na região abdominal foi responsável pelas últimas cinco operações. O equilíbrio emocional e a força de vontade de Alencar, que comoveu o país com suas declarações ao deixar o hospital, são fundamentais para o restabelecimento do paciente. A superação de Roseana Com uma voz mansa e olhar penetrante, algumas vezes sem rumo, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) falou abertamente ao Correio em sua casa sobre todos os seus problemas de saúde. Dura na queda, a parlamentar se prepara para a 21; cirurgia (leia cronologia), que deve ocorrer em março próximo. Ela vai tratar um aneurisma cerebral, descoberto num exame de rotina em novembro de 2008. ;Era para ter feito isso logo no Natal e ano-novo, mas não quis deixar minha família preocupada;, afirma. A senadora, que tem uma tendência a tumores, viveu seu pior momento em 1998. Naquele ano, ela retirou nódulos do pulmão, dos ovários, útero e trompas e um papiloma na mama direita, além de ter sofrido uma obstrução intestinal grave. Chegou a ser desenganada pelos médicos. ;Não me entrego nunca. As pessoas que passam dificuldades também deveriam fazer o mesmo;, aconselha. Filha do ex-presidente da República e atual presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), Roseana recebeu em 2001 a notícia de que tinha dois carcinomas incito (câncer inicial) em uma das mamas. ;Eu sempre tive a sorte de descobrir esses tumores e nódulos em estágio inicial e antes que se transformassem na doença;, revela. Por isso, nunca precisou fazer quimioteria e radioterapia. ;Mas se fosse necessário, eu enfrentaria tranquilamente;, conta. Bem-humorada, a senadora diz que conhece tudo de hospital e dá até algumas dicas. ;Nunca saio do hospital nos fins de semana. Porque se ocorre um problema, é difícil encontrar um médico para prestar uma assistência de emergência;, ensina. Das 20 cirurgias que Roseana fez, apenas uma foi para fins estéticos. Em 2000, quando operou o joelho, ela se submeteu a uma lipoaspiração interna das coxas e na parte superior da barriga e ainda fez um preenchimento em volta da boca. ;Como não podia mexer na parte inferior da barriga, decidi fazer em cima. Pelo menos uma cirurgia para me sentir mais bonita;, ironiza. Um dos seus maiores prazeres ; o cigarro ; foi deixado de lado, por indicação médica, para se preparar para a cirurgia que vai fazer em março. ;Gosto do cigarro e sempre tento negociar com os médicos uma forma de continuar fumando, mesmo que de forma moderada. Mas agora eu quero parar de vez. Para amenizar a vontade, procuro ingerir alimentos gelados, como picolé de limão;, conta Roseana, que fixou residência há dois anos em Brasília. Rotina de Cirurgias e dores 1973 ; Aos 19 anos, estudante em Genebra, na Suíça, tem cistos no ovário e no apêndice 1977 ; Com 23 anos, faz várias cirurgias para engravidar 1982 ; Tem um tumor no intestino quando a filha adotiva tinha apenas 2 anos (hoje tem 29) 1985/1989 ; Durante o mandato de seu pai, José Sarney, na Presidência da República, descobre um pólipo no intestino 1994/1998 ; Em seu primeiro mandato como governadora do Maranhão, sente dores abdominais fortes e constantes 1998 ; Faz cirurgia para retirada de nódulos no pulmão, ovários, útero, trompas e papiloma na mama direita, além de obstrução intestinal grave. É desenganada pelos médicos 2001 ; Tem a patela esmigalhada ao cair em casa 2002 ; Diagnosticado outro nódulo na mama direita 2004 ; Descobre um tumor nas nádegas. Faz duas cirurgias para retirá-lo 2005/2006 ; Sente dores violentas de cabeça e o diagnóstico é de microfissuras na coluna por descalcificação provocada pelo encurtamento do intestino 2007 ; Sofre fratura no pulso esquerdo. Realiza cirurgia para implantação de três pinos. Consequência da fratura: Distrofia do Simpático Reflexo (DSR) ; dores e deformação da mão 2008 ; Descobre num check-up de rotina um aneurisma cerebral 2009 ; Em março, será submetida a uma cirurgia para tratar o aneurisma. O procedimento será o 21; em seu corpo