Jornal Correio Braziliense

Brasil

O sambódromo virou mar

Com a reedição do samba-enredo A lenda das sereias, a Império Serrano abriu o primeiro dia dos desfiles das escolas do Grupo Especial do Rio


Com o enredo A lenda das sereias e os mistérios do mar, de 1976, a Império Serrano abriu ontem o desfile do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro. Mais de 200 ritmistas comandados por mestre Átila pisaram no Sambódromo às 21h20, sob o canto do puxador Nego, irmão de Neguinho da Beija-Flor. No papel da sereia, estava a rainha Quitéria Chagas, que, na avenida, encantava os marinheiros. Depois de dois anos, a escola trouxe de volta à Marquês de Sapucaí a ala de passistas, formada agora por um grupo de 50 pessoas, selecionadas num concurso da verde-e-branco. Em 2006, os dançarinos, que não dominavam o samba, contribuíram para a Império ficar em 8º lugar. Logo depois, desfilou a Grande Rio, que teve a atriz global Paola Oliveira como rainha. Em seguida, passaram pelo Sambódromo Vila Isabel, Mocidade, Beija-Flor e Unidos da Tijuca. Hoje, o segundo dia de desfiles reúne as duas escolas mais tradicionais do grupo especial carioca: Mangueira e Portela. Foram elas que, há 25 anos, na inauguração do Sambódromo, venceram o desfile. Naquele ano, o regulamento foi diferente. Cada dia teve uma campeã. Portela venceu no domingo, Mangueira na segunda. E na contagem geral, a Mangueira levou o título de supercampeã. Agora, as duas tentam romper um jejum de títulos. A Portela não ganhou mais nenhum carnaval desde então. A Mangueira venceu outros quatro, mas o último já faz sete anos. Portela, a escola do coração de Paulinho da Viola e Marisa Monte, vai cantar o amor na avenida, começando com histórias da Idade Média até chegar aos dias de hoje, passando pela construção do Taj Mahal e os amores efêmeros típicos dos bailes de carnaval dos anos 1950. Para coroar tantas histórias românticas, a escola convidou Luma de Oliveira para rainha de bateria. A volta deve ser gloriosa. Ela não desfila há três anos Na quadra, em Madureira, Luma ensaiou até uma coreografia com os ritmistas da bateria de Mestre Nilo Sérgio. Faltou dinheiro Na Mangueira, o clima no barracão na semana anterior ao desfile não foi dos mais animados. Faltou dinheiro. ;A Mangueira tem força, independentemente da situação que está vivendo;, diz o carnavalesco Roberto Szaniecki. Ele promete compensar a falta do luxo com criatividade e materiais inusitados para contar a história do livro O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. A passarela do samba leva o nome do antropólogo brasileiro que comandou a construção do Sambódromo, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. ;Eu fiz miniescolas de samba, com começo, meio e fim, e nuances de verde e rosa;, antecipa Szaniecki, que desenhou cerca de 200 fantasias. Também desfilam hoje Porto da Pedra, que luta para não ser rebaixada, Salgueiro, vice-campeã do ano passado, Viradouro e Imperatriz Leopoldinense. No Salgueiro, o carnavalesco Renato Lage já escolheu o destaque no enredo sobre o tambor: a bateria. ;Os ritmistas são os protagonistas do desfile;, diz. Rosa Magalhães, carnavalesca da Imperatriz, que ganhou o Grammy de melhor figurino pela cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007, preparou neste ano um desfile mais luxuoso para contar a história de Ramos, bairro onde nasceu a escola. No último carro, promete delirar. ;Não sei se vão gostar. É um carro clean com pessoas usando roupas que aparentemente não combinam. Talvez assuste, mas é uma coisa plástica. Representa o delírio;, explica. O carnaval de 2009 termina com o desfile da Viradouro. O carnavalesco Milton Cunha assumiu a escola no meio do ano, depois que Paulo Barros foi demitido. No enredo sobre a Bahia e biocombustíveis não podia faltar um capítulo sobre a culinária baiana. Cunha criou o carro da moqueca. Uma baiana mexe um panelão com mulheres fantasiadas de camarões. A apuração das escolas do Rio será na quarta-feira.