Segundo um estudo que está prestes a ser publicado por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a anatomia do cérebro humano obedece fielmente à uma regra de escala dos cérebros de primatas, não só em tamanho, mas também no número de neurônios - que é bem menor do que se imaginava. ;Não há nada fora do comum nos nossos cérebros;, diz o pesquisador Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, que foi um dos responsáveis pelo estudo. ;Nesse aspecto, o ser humano é um primata como outro qualquer.;
A base do trabalho é uma contagem inédita de neurônios no cérebro humano. O número tradicionalmente citado na literatura é de 100 bilhões. Lent até usou isso como título de seu livro - Cem Bilhões de Neurônios, Conceitos Fundamentais da Neurociência, de 2001 -, mas depois descobriu que nunca havia sido feita uma contagem precisa. Resolveu, então, fazer uma, com a ajuda da colega Suzana Herculano-Houzel. A parceria deu origem a uma série de pesquisas publicadas nos últimos anos sobre os cérebros de roedores e primatas.
Outra surpresa foi o número de células gliais, um tipo de célula que dá suporte aos neurônios e pode estar envolvida também no processamento de informações. Os cientistas encontraram uma proporção de praticamente um para um. A pesquisa foi feita com quatro cérebros doados pelo Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Os resultados do estudo, que foi tese de mestrado do aluno Frederico Azevedo, serão publicados na revista The Journal of Comparative Neurology.