Um homem apontado como líder de uma quadrilha especializada em assaltos a bancos e a carros-fortes confessou a representantes do Ministério Público e policiais civis de Minas Gerais ser o autor do assassinato do senador Olavo Pires - executado com rajadas de metralhadora no início da noite de 16 de outubro de 1990, em frente a uma revendedora de máquinas pesadas de sua propriedade, na região central de Porto Velho (RO). Então com 52 anos, o senador disputava o segundo turno das eleições para o governo de Rondônia e liderava as pesquisas de intenções de votos.
João Ferreira Lima, o João de Goiânia, foi preso no último dia 11, na cidade de Guaraí, em Tocantins, a cerca de 200 quilômetros da capital Palmas. Lima chegou a ser ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pistolagem, no Congresso Nacional, no início dos anos 1990, mas na época negou envolvimento com o homicídio. Em um vídeo gravado pela força tarefa do MP e Polícia Civil, ele assume que usou uma metralhadora UZI, de fabricação israelense, e efetuou 16 disparos contra o senador, sendo que 11 balas atingiram a cabeça da vítima
A primeira confissão, segundo informou o procurador André Ubaldino, do Centro de Apoio de Combate ao Crime Organizado do MP mineiro, ocorreu na viagem de avião de Palmas para Belo Horizonte. Lima foi questionado por um delegado sobre o episódio e assumiu a autoria, atribuindo a execução a supostas dívidas que o senador e candidato teria com ele em função da receptação de carros furtados. "Matei e mataria de novo", disse Lima, conforme relato de Ubaldino.
Na capital, em depoimento gravado a policiais e promotores, ele volta a confessar o crime. Lima não cita o nome do senador, mas relata um crime antigo: "Ele morreu por um rapaz que é meio nervoso. Não aguenta muito desaforo. Hoje ele está mais velho. Ele gosta de arma. Aí, ele deu, quis aplicar uns 16 tiros de UZI nele e pegou 11 na cabeça", contou. Em seguida, um dos interrogadores pergunta se o tal rapaz nervoso era ele e Lima balança a cabeça positivamente. "O que nós temos é a indicação de um crime até agora de autoria desconhecida", observou o procurador
'Bazófia'
Ontem, porém, durante a apresentação à imprensa de Lima e outras cinco pessoas suspeitas de integrar a quadrilha responsável por ações em todo país, o suposto líder do grupo negou o crime. "Não participei não", disse, em entrevista à rádio Itatiaia. Pela versão de Lima, o assassinato do senador não teria sido um crime de mando. Ubaldino acredita na confissão, mas admite que os depoimentos espontâneos geram desconfiança. Quando assistiu ao trecho do vídeo, o procurador geral de Justiça, Alceu José Torres Marques, chegou a classificar como "bazófia" a declaração.
Marques ligou hoje para o procurador-geral de Rondônia - onde tramita o inquérito -, Abdiel Ramos Figueira, comunicando o fato e colocando o MP à disposição nas investigações. O depoimento formal de Lima, que está preso na penitenciária de segurança máxima de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, deverá ser requisitado