São Paulo ; Se a promessa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) for mantida, a série de invasões a propriedades rurais ocorrerá no quarto mês do ano, quando se celebra o Abril Vermelho. A data faz alusão ao massacre de Eldorado dos Carajás, quando a Polícia Militar do Pará executou 19 sem-terra. Os colonos ocupavam uma estrada no sul do estado e foram retirados do local numa operação imposta pelo então governador tucano, Almir Gabriel.
As ocupações de terras e prédios públicos, além dos bloqueios de estradas, comuns na data, deverão ser mais intensos porque, até lá, o governo já deverá ter divulgados os dados oficiais sobre assentamentos no campo, e 2008 terá o pior desempenho do governo de Luiz Inácio Lula da Silva quando se trata de distribuição de lotes. De 2003, primeiro ano do governo Lula, a 2007, foram assentadas no país 449 mil famílias, segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O auge ocorreu em 2006, quando foram assentadas 136,3 mil famílias. Em 2007, o governo amargou o até então menor número de assentamentos: 67,5 mil famílias ganharam lotes.
Os dados do ano passado ainda não foram divulgados, mas sabe-se que 2008 foi o pior ano do PT quando se trata de reforma agrária, sendo assentadas cerca de 20 mil famílias. Segundo estimativas dos movimentos sociais, há no país 7 milhões de pessoas à espera de terra.
Agronegócio
Ao longo dos anos, o MST ficou conhecido pelo barulho que fazia na luta pela reforma agrária. Para 2009, apesar das opiniões divididas quanto ao poder de mobilização, o movimento aposta na invasão de grandes latifúndios, que se tornarão improdutivos por causa da crise mundial, que derrubou o preço das commodities. ;Neste ano, vamos potencializar a luta. Com essa crise, o modelo do campo vai parar de crescer e haverá muitas terras improdutivas. Aí vocês verão o poder de mobilização do MST;, promete Messilene da Silva, da coordenação nacional.
O discurso da líder sem-terra sustenta a lógica de que o maior entrave da reforma agrária no país ainda é o agronegócio. ;A reforma agrária tem tido poucos avanços, diante da nossa expectativa. O governo divulga balanços, mas concretamente há poucos avanços. Deixou de ser pauta do governo e da sociedade. A prioridade é o agronegócio;, discursa Egídio Brunetto, líder nacional do MST.
Os sem-terra apoiaram a eleição do presidente Lula em 2002. Na re-eleição de 2006, eles aderiram apenas no segundo turno. Segundo seus dirigentes, a organização procura manter independência em relação ao governo e ao mesmo tempo sustentar um canal de diálogo. Em um artigo postado no site do MST, o líder nacional João Pedro Stédile disse que ;não houve reforma agrária durante o governo Lula. Ao contrário, as forças do capital internacional e financeiro, através de suas empresas transnacionais, ampliaram seu controle sobre a agricultura;.