Embora ainda não tenha provocado grande impacto sobre a estimativa da safra 2008/2009, a estiagem que castiga o noroeste do Rio Grande do Sul desde dezembro tem ares de desastre para muitos agricultores dos 52 municípios que já decretaram situação de emergência. Segundo a Conab, os gaúchos deixarão de colher 119 mil toneladas de milho, 2% menos que a previsão inicial de 5,324 milhões de toneladas. No caso da soja, a quebra estimada, por enquanto, é menor, de 0,5%, equivalente a 41 mil toneladas de um total inicialmente previsto para 8,132 milhões.
Mas, em Candido Godói, município de 8 mil habitantes localizado no oeste do Estado, a 530 km de Porto Alegre, o drama parece bem maior. "Nossas estimativas indicam que perderemos dois terços da colheita de milho e, se não chover até o dia 20, o porcentual pode chegar a 95%", diz a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Teresinha Maria Sties.
O cálculo, feito para todo o município, vale também para a pequena propriedade da família de Teresinha. Os Sties gastaram cerca de R$ 900 para cada um dos nove hectares que plantaram e já não esperam colher mais do que 1,2 mil quilos por hectare, volume bem inferior à projeção inicial, de 3,6 mil quilos por hectare. Na vistoria para pagamento do seguro, os técnicos já autorizaram a família a transformar o que restou da lavoura em alimento para as vacas leiteiras.
Outro produtor de Cândido Godói, Max Gotve Filho, já plantou seus oito hectares com milho que seria destinado à alimentação de suas 20 vacas leiteiras. "Perdi 80% do grão e as folhas que ficaram são de má qualidade", diz. Na prática, a alimentação pior do gado significará queda de 50% na produção do leite, que chegava à média de 10 mil a 12 mil litros por mês.