O governo vai tolerar o desmatamento de 70 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica de 2009 a 2017, uma área superior aos estados do Rio de Janeiro e Sergipe juntos. A estimativa de destruição do bioma, feita pelo Ministério do Meio Ambiente, é uma das metas divulgadas hoje no Palácio do Planalto que o Brasil se propõe a cumprir no esforço mundial de combate ao aquecimento global.
Criticado por ambientalistas que fazem parte do comitê de mudança climática, o Plano Nacional Sobre Mudança do Clima, anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro Carlos Minc, dá a folga necessária para a expansão do agronegócio e a execução de obras de infra-estrutura, segundo técnicos do próprio governo. Ao contrário do que era esperado por entidades do setor ambiental, o Ministério do Meio Ambiente reduziu de 40% para 30% a meta de ritmo de queda do desmatamento no quadriênio 2010-2013 em relação ao período 2006-2009 e incentiva o plantio de pinho e eucalipto.
Durante a solenidade, Carlos Minc disse que, embora não seja o ideal, o plano evitará emissões de 4,8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e, agora, o governo definiu o que cobrar para a redução do desmatamento. "A gente tinha objetivos, mas não tinha procedimentos e cronogramas", afirmou. "Não podíamos cobrar dos setores redução do desmatamento, pois não havia um plano nem uma meta.
Lula, em discurso, disse que o Brasil está fazendo sua parte no combate ao aquecimento global. Ele reclamou dos "palpiteiros contumazes" do exterior que criticam a política ambiental do governo. O presidente informou que pretende conversar "seriamente" com prefeitos e governadores das regiões com índices mais elevados de desmatamento. "Temos de estender uma mão para ajudá-los e outra para dizer que terá punição quem destruir a floresta", disse.
Críticas
O plano foi criticado por membros do comitê de mudança do clima. "Nós estamos longe de ter um plano que atenda à dimensão do problema que enfrentamos", afirmou o ambientalista Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra, em discurso assistido pelo presidente Lula e por Minc. Smeraldi foi escolhido para falar em nome das entidades que integram o comitê.
Em entrevista depois da cerimônia, o ambientalista disse que o plano de Carlos Minc "é uma forma de o governo respaldar e legitimar um fato", referindo-se à destruição da floresta. Ele critica a decisão do governo de utilizar percentuais elevados de desmatamento no passado para estabelecer metas para os próximos anos.
Smeraldi avaliou que o governo, ao tolerar um desmatamento de 70 mil quilômetros quadrados de 2009 a 2017, vai permitir a destruição justamente da área propícia ao desenvolvimento sustentável. Essa área, segundo ele, está próxima de cidades, vilas, estradas e de toda uma infra-estrutura. "Pela visão do mercado, vamos perder o filé mignon, que é a floresta perto da infra-estrutura", avaliou. "É aí que deveria ter projeto de desenvolvimento sustentável, algo que não é possível em regiões mais remotas como a Serra do Tucumaque.