O talento às vezes se esconde em lugares bem distantes. Entre esses lugares longínquos estão Alta Floresta e Novo Mundo, respectivamente a 800 e 791 quilômetros de Cuiabá, no norte de Mato Grosso, em plena Floresta Amazônia. É nessa região rica em biodiversidade que vivem os artesãos dos núcleos Elemento do Mato, Art;s Wapûrûm, Patauá Artes e Design e Comunidade Rochedo.
Peças artesanais desses quatro grupos integram o catálogo Colhedores de Sonhos, produzido pelo Governo de Mato Grosso, Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia e Sebrae em Mato Grosso. São objetos decorativos e utilitários, biojóias e acessórios, feitos em sementes, fibras, cipós, gravetos e pedaços de madeira, produzidos por cidadãos de pequenas comunidades dos dois municípios que se organizam para fazer um artesanato diferente, uma prova que é possível aproveitar, de forma sustentável e com manejo adequado, os muitos recursos que a floresta produz.
;O Catálogo Colhedores de Sonhos faz parte de um processo de capacitação com uma visão do todo, cuja metodologia começa e termina no mercado;, explica Iane Thé, da Unidade de Artesanato do Sebrae/MT. Ela acrescenta que o trabalho começa com a identificação do grupo e de suas potencialidades, bem como a disponibilidade de matéria-prima em cada região.
;Depois disso, um designer convidado faz uma proposta de melhoria de produção tendo em vista o mercado, seguida de gestão de vendas, formação de preços dos produtos criados, organização do grupo no que diz respeito à produção e vendas, confecção de catálogo, peça utilizada para apoiar a comercialização;, detalha a técnica, acrescentando que os catálogos são produzidos em duas versões, papel e digital, e enviados para lojistas e distribuidores, ;gerando uma espiral crescente de desenvolvimento de cada grupo;.
Depois da coleção Vazante, primeira do gênero, já foram feitos catálogos de seis coleções de Cuiabá: Kuyaverá, Nossa História, Flores e Violas, Pira Flor, Segredos e Varandas e Pirapan. De Barra do Garças, foi feito o catálogo Encontro das Águas; de Cáceres, Vila Maria; e de Conquista D;Oeste, Favos e Flores. Foram lançados ainda mais dois catálogos de brindes corporativos: Digoreste e Portal do Pantanal, bem como o catálogo de exportação enviado a vários países e que já está trazendo resultados práticos despertando o interesse de compradores da Europa. A holandesa Barbosa do Brasil está em negociação com artesãos locais para a compra de produtos e a empresa Serve, também distribuidora européia de artesanato, já fez contatos com os núcleos artesanais mato-grossenses.
O catálogo de exportação foi levado para feira no Peru e será utilizado também na Expo Artesania, que ocorre na Colômbia, de 4 a 17 de dezembro. Uma missão com técnicos e quatro artesãos está sendo organizada pelo Sebrae/MT para fazer prospecção de mercado.
Segundo Iane, esta é uma metodologia interessante porque inicia e termina no mercado. ;A pessoa que identifica o grupo tem um olhar de mercado. Quando se cria uma coleção há uma profissionalização do negócio do artesanato. Ela faz com que o artesão veja o trabalho de uma outra forma e fique focado no mercado. Passa a desenvolver produtos mais adequados, incluindo peças para nichos de mercado, utiliza ferramentas de marketing e tem uma gestão mais eficiente, definindo melhores preços e estratégias de comercialização;, acentua, acrescentando que ;com isso, o artesão passa a ter um olhar mais crítico e uma postura mais empreendedora;.
O catálogo Colhedores de Sonhos traz em 61 peças. São caixas, jarras e outros objetos decorativos da Patauá Arte Design; colares, brincos e acessórios em sementes; jogos americanos, porta copos, porta panelas e cestos em fibra de patauá; brincos, colares e pulseiras em sementes e com pedaços da cápsula de castanha-do-brasil.
O trabalho da artesã Verani Nabarrete, a Elemento do Mato, é criativo e ousado. Ela vê a natureza com outros olhos e transporta para a cidade belezas escondidas no meio da mata recolhendo e juntando cipós da Floresta Amazônica usados em peças de marchetaria feitas com muita paciência e dedicação.
Os artesãos Maria e João Piva lançam mão da fibra de patauá, espécie de coqueiro abundante na região de Alta Floresta, para trançar suas peças artesanais que entrelaçam despojamento e requinte. Os 11 artesãos do núcleo de produção de biojóias da Comunidade Rochedo iniciaram suas atividades a partir de um curso de coleta de sementes, manejo e armazenamento oferecido à comunidade para aproveitar a grande variedade de sementes nativas na região. O catálogo Colhedores de Sonhos será enviado àalojistas de Mato Grosso e do Brasil e também levado a feiras no Brasil e no exterior.