A família está reunida à noite em torno da televisão quando vem a pergunta, à queima-roupa: ;Mãe, como o bebê entra na barriga?; O questionamento, natural entre as crianças, ainda pega muito pai desprevinido hoje em dia. Principalmente pelo fato de ele surgir cada vez mais cedo. Segundo psicólogos e educadores, não é raro que um menino ou menina de 2 anos hoje em dia manifeste esse tipo de curiosidade. A garotada dos anos 2000 faz parte de uma geração que desperta para o sexo mais cedo do que os pequenos de 10 anos atrás, quando as primeiras perguntas costumavam surgir por volta dos 5 anos.
Os meios de comunicação (internet, TV e revistas) são apontados como responsáveis pelo fenômeno. A constatação está tirando o sono dos pais e deixando muitos educadores de cabelo em pé. No entanto, segundo psicólogos, pedagogos e sexólogos, o diálogo franco ainda é a melhor solução para enfrentar a situação. ;Nós não podemos nos esconder como avestruzes para uma realidade que está à nossa frente. A descoberta e a curiosidade da criança para a sexualidade está acontecendo cada vez mais cedo;, diz o sexólogo carioca Marcos Ribeiro, autor dos livros Sexo não é bicho-papão, Mamãe, como eu nasci? e Sexo: como orientar seu filho.
Ele explica que a curiosidade da criança está mais aguçada graças às informações divulgadas pela internet, pela televisão e até mesmo na escola. ;Sabemos que as salas de muitos colégios são divididas entre alunos do ensino médio e fundamental. Fatalmente os menores terão contato com cartazes sobre o uso da camisinha, por exemplo. Material que não é adequado à idade, mas que eles terão acesso. Sem falar que muitos já sabem ler aos quatro, cinco anos;, comentou.
A preciocidade das crianças de hoje tira o sono dos pais, principalmente os de primeira viagem. Tendo como base o que já ouviu dos sobrinhos, como o pequeno Cauã, 4 anos, a vendedora Ivone Araújo, 28, teme não conseguir responder as perguntas que certamente virão da filha Giulia, 2. ;Há um mês, ele (Cauã) me perguntou porque o homem tem piu piu e a mulher não. Na hora fiquei com vergonha e disse que Deus quis diferenciar os dois. Depois tive dúvidas se fiz bem;, afirma.
Amiga de Ivone, a advogada Priscila Damásio, 24, também tem receio dos questionamentos que a filha Gabriela, 2, venha a fazer sobre sexualidade, mas já pensou em alternativas para se livrar dos questionamentos mais difíceis de lidar. ;Quando a pergunta for complicada, mando a Gabriela perguntar para a minha mãe, que é psicóloga. Fizemos isso com o meu sobrinho de 5 anos, que uma vez perguntou o que era transar;, conta. Priscila lembra que há poucos dias a menina começou a dizer que elas eram namoradas. ;Não sei onde ela ouviu isso;, diz.
Colaborou Hércules Barros