Jornal Correio Braziliense

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Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto mostra que o risco de infarto é maior na segunda-feira

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Conhecida como o dia da preguiça, a segunda-feira esconde um perigo muito maior do que o de chegar alguns minutos atrasado no trabalho. É no primeiro dia útil da semana que está a maior incidência de infartos, segundo levantamento feito pelo Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, em São Paulo. Os pesquisadores ligados à unidade de saúde analisaram 173.982 internações por distúrbios cardiovasculares registradas em 37 hospitais da região entre 1987 e 1996. Dessas, 19,3% dos casos ocorreram na segunda-feira. Em uma comparação, se os atendimentos fossem distribuídos igualmente ao longo de uma semana, a média diária seria de 14%. Para o autor do estudo, o chefe do Departamento de Medicina Social do HC, Juan Rocha, é a mudança de ritmo do fim de semana para os dias úteis que desencadeia as crises. ;A pessoa passa o fim de semana relaxada, divertindo-se e longe das preocupações. Às vezes, até exagera. Na segunda, tem de enfrentar os problemas do dia-a-dia de novo. O ritmo das coisas se torna acelerado;, explica, lembrando que os números confirmam uma percepção em todo Brasil. O cardiologista esclarece que a ansiedade pela volta ao trabalho intensifica fatores de risco como hipertensão, favorecendo o surgimento dos distúrbios. Além do estresse, os passeios de fim de semana, nem sempre inofensivos, costumam vir acompanhados de bebidas alcoólicas e comidas menos saudáveis. ;O segredo é manter o equilíbrio e afastar o que faz mal. Não é porque é fim de semana que vale tudo;, diz. Passados quase cinco anos, o carioca Alírio Cabral, 64 anos, ainda conserva fresca na memória e nas imagens do exame cardiológico a madrugada de segunda-feira em que teve de ir às pressas para o hospital. ;Tive um infarto depois de uma sexta-feira, sábado e domingo de badalação. Ao pessoal que vinha me visitar, dizia que o fim de semana tinha sido bravo;, lembra Cabral. A rotina boêmia rendeu ao aposentado, morador de Brasília há sete anos, a reforma em duas artérias que estavam comprometidas. Depois da bronca do cardiologista, o consumo de cigarros caiu de um maço para três unidades por dia. E apesar de não seguir à risca a dieta recomendada, Alírio passou a evitar comidas gordurosas e a praticar caminhadas com regularidade. ;Apenas tirei o pé do acelerador. Levo uma vida normal;, brinca. O resultado da pesquisa do hospital paulista não surpreende o cardiologista Brasil Ramos Caiado. De acordo com o médico, dados estatísticos nos grandes hospitais brasileiros mostram que também o sábado e o domingo são dias críticos para a saúde. ;A combinação sal e churrasco regado a bebida alcoólica eleva os casos de pressão alta e aumenta a incidência de derrames;, explica. A preocupação dos cardiologistas com o quanto o coração é maltratado de sexta-feira a domingo levou o médico Geniberto Paiva Campos a criar uma revista direcionada para os leigos. ;Vamos simplificar a linguagem dos artigos científicos da categoria sobre o assunto para alertar as pessoas sobre a necessidade de prevenir problemas cardácos. É obrigação do médico proporcionar informação ao paciente para que ele evite excessos no fim de semana;, diz. Risco ao acordar O médico João Moraes, cardiologista do Hospital Agamenon Magalhães, referência na área em Recife, ressalta que o maior risco está na hora em que a pessoa acorda. ;Nesse período, o corpo se prepara para acelerar o metabolismo e aumentar a freqüência cardíaca e a pressão arterial;, destaca. Isso explica a maior presença dos registros de infartos durante a manhã, por volta das 9h. Mas não de maneira isolada. Em geral, diz Moraes, os infartos são desencadeados em quem já tem fatores de risco como colesterol alto. ;As pessoas ingerem mais bebidas alcoólicas, gorduras e frituras nas folgas. Quem fuma também exagera nesses dias e as taxas ficam mais alteradas;, destaca. O melhor mesmo para evitar uma surpresa mais que desagradável logo no início da semana é não deixar de se cuidar nem nos momentos de descanso, recomenda o médico Juan Rocha. É o que faz o auxiliar administrativo Vladimir Carlos, 30 anos. ;Gosto do meu trabalho e aproveito as folgas para namorar e relaxar. Assim não fico nervoso nem abuso do álcool. O segredo está em manter um equilíbrio;, ensina. O comportamento regrado e o peso sob controle também tiram o administrador Renato Farias, 29 anos, da lista dos ameaçados de sofrer um infarto. Para compensar o trabalho ;estressante;, ele pratica esportes. ;Eu não me estresso e busco sempre trabalhar no meu ritmo;, ressalta.