Há cerca de 10 anos os moradores da Rua 12 de Julho, no Pina, Zona Sul do Recife, convivem com "vizinhas" nada amistosas. Ao menor sinal de barulho ou fumaça, elas não hesitam em atacar quem estiver por perto. Adultos, crianças, idosos, cachorros e gatos. No último domingo, a situação chegou ao limite. Três moradores foram internados após ataques de um enxame de abelhas africanizadas, espécie que vive numa colméia instalada dentro de um tronco de árvore no imóvel de número 52.
Uma das vítimas, Sérgio Ricardo Correia, chegou a tirar mais de 100 ferrões do corpo. Esse foi o segundo caso de ataque de abelhas em menos de uma semana na Região Metropolitana do Recife. Na última sexta-feira, moradores de um prédio em Maranguape I, Paulista, também se queixaram da presença dos insetos venenosos.
"Passei muito mal. Enjoei e tive febre. Até faltei ao trabalho. Mas tive sorte. Se fosse como a minha irmã, que é alérgica a picada de abelha, teria morrido", desabafou Sérgio. Gisélia Correia levou apenas três picadas, suficientes para fazer seu rosto inteiro inchar. Ela foi levada às pressas para o Instituto Materno Infantil (Imip), nos Coelhos, com sintomas de edema de glote. "Foi horrível", comentou a dona-de-casa, que pediu para não ser identificada com o rosto desfigurado.
No último domingo ela, a mãe, os irmãos e os sobrinhos se reuniram para um churrasco em sua casa. Quando foi até a churrasqueira, no quintal, percebeu que as crianças estavam gritando. "Vi aquela nuvem preta em cima deles e, depois, em cima de mim", contou. A família não foi a única a viver momentos de pânico. Dezenas de vizinhos reclamaram, horas depois, do mesmo problema. Dois cachorros e três gatos da rua morreram depois das picadas.
Há cinco anos, os donos da casa onde as abelhas estão instaladas tentam sem sucesso derrubar o pé de oliveira que abriga a colméia. "Os bombeiros chegam, tocam fogo, mas elas voltam a aparecer", declarou Evandro Valentim, dono da casa de número 52. Constrangido pelos problemas causados na vizinhança, ele afirmou que já tentou derrubar a árvore, pouco maior que um poste.
"Não sou a favor de derrubar árvores. Mas, como a colméia é interna, não tem outro jeito", disse. A equipe de reportagem do Diario repassou o problema ao Grupamento de Salvamento do Corpo de Bombeiros, que prometeu podar a árvore ainda hoje.
Apesar de não existirem estatísticas oficiais sobre os casos no estado, o tenente-coronel Valdy Oliveira, responsável pelo setor de comunicação do Corpo de Bombeiros, afirmou que os ataques de abelhas africanizadas, espécie mais comum no Nordeste, acontecem com maior freqüência nesta época do ano. "As pessoas devem evitar atrair as abelhas, tampando os lixos e não deixando doces expostos. Em casos de colméias visíveis, a população deve chamar os bombeiros. Esse é um serviço gratuito que prestamos. Até mesmo em casos onde são necessários cortes de árvores", explicou. Ele alertou que as picadas podem levar os alérgicos à morte.