As vítimas do abalo sísmico que no final do ano passado causou a primeira e única morte no país em decorrência de um tremor de terra vivem hoje uma espécie de trauma urbano, após terem sido deslocadas para o centro da cidade mineira de Itacarambi, que fica a 663 km de Belo Horizonte. Há relatos de aumento do alcoolismo e da violência doméstica, além da falta de emprego e da ociosidade. Os vastos quintais com hortas, plantações e pequenos animais deram lugar a fileiras de casas, coladas umas às outras. Algumas das famílias cogitam arrumar as malas e voltar para o campo, juntando-se às três famílias que não acataram os pedidos da Defesa Civil e permanecem na comunidade rural de Caraíbas.
Em maio, cinco meses após o terremoto, as 76 famílias afetadas receberam do governo de Minas uma casa mobiliada no centro de Itacarambi e foram orientadas a abandonar seus pedaços de terra, a 35 km dali. O tremor de dezembro, de 4,9 graus na escala Richter, matou uma criança de cinco anos e deixou seis pessoas feridas. Avelina Bezerra, de 46 anos, mudou-se para a zona urbana, enquanto o marido fica na comunidade atingida pelo tremor. "Lá eu não consigo dormir. Fico com medo;, afirma a dona-de-casa. Vera Alice de Oliveira, de 26 anos, mãe de Gesiquelle, de 5, que morreu no tremor de dezembro, vive com a filha Taína, de 2, numa das casas construídas pelo governo. "Aqui me sinto mais segura, mas também sinto muito falta da roça;, diz. Itacarambi sofre com o desemprego. As poucas oportunidades surgem nos concursos da prefeitura, inviáveis para lavradores.
De acordo com a psicóloga Valéria Patrícia França, o alcoolismo já é comum nessa região do Estado, mas tem sido pior nas famílias atingidas pelo tremor. "As mulheres têm nos procurado para denunciar abusos dos maridos com bebidas e com a violência em casa;, diz.