Nova York - O vírus da Aids circula entre os seres humanos há uns cem anos, décadas antes do inicialmente suposto pelos cientistas. A afirmação é feita por um novo estudo da Universidade do Arizona, divulgado na edição desta quarta-feira (1º/10) da revista científica Nature, nos Estados Unidos. Análises genéticas demonstraram que a suposta origem do HIV ocorreu entre 1884 e 1924, com um cálculo mais preciso ao redor de 1908.
Anteriormente, os cientistas acreditavam que o a origem do vírus ocorrera perto de 1930. A Aids foi reconhecida formalmente em 1981, quando chamou a atenção das autoridades de saúde pública dos EUA.
O novo resultado "não é uma mudança brusca, mas significa que o vírus circulava antes do que prevíamos", apontou Michael Worobey, da Universidade do Arizona, um dos autores da pesquisa. Os pesquisadores assinalam que as novas datas levam em conta o crescimento de cidades da África, e sugerem que o desenvolvimento urbano pode ter promovido o estabelecimento inicial do HIV e sua propagação.
Os cientistas afirmam que o HIV é oriundo dos chimpanzés e passou a atingir seres humanos na África, provavelmente porque alguns africanos matavam esses animais. Muitos indivíduos se infectaram com esse contato, porém o vírus não conseguiu se estabelecer entre os humanos em um primeiro momento, apontaram os pesquisadores.
Porém o crescimento das cidades teria mudado essa situação, ao reunir mais pessoas e promover a prostituição, sugeriu Worobey. "As cidades são ideais para um vírus como o HIV, já que nelas aumenta a possibilidade de que um indivíduo transmita o organismo para outros", disse. Uma hipótese é que uma pessoa infectada na área rural tenha ido a área onde hoje fica Kinshasa, no Congo, "e essa foi a fagulha que chegou ao paiol", comparou o cientista.
O novo estudo utilizou dados genéticos de duas amostras antigas do HIV, além de cem amostras modernas, para criar uma árvore genealógica do vírus. Para os especialistas, não é surpresa que o HIV tenha circulado uns 70 anos antes de ser reconhecido. Uma infecção geralmente demora anos para produzir sintomas visíveis, uma pausa que pode mascarar o papel do vírus. Além disso, poucos africanos haviam sido infectados nos primeiros anos, explicaram os cientistas.