Por causa da ausência de anestesistas contratados pelo governo do Rio, ao menos cinco pacientes do hospital Getúlio Vargas, na Penha (zona norte), não puderam ser operados nesta sexta-feira (26/09), de acordo com a direção da unidade. Entre eles está um menino de cinco anos com apendicite há cinco dias.
Os médicos da unidade denunciaram a falta de profissionais durante ato de repúdio ao governador Sérgio Cabral (PMDB), por ele ter chamado de vagabundos profissionais que faltaram a um plantão no mesmo hospital no último domingo (21). O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), que organizou o protesto, entrou na Justiça contra o governador na quinta-feira (25/09) por danos morais contra os médicos.
Segundo o hospital, não há anestesistas em seus quadros às sextas-feiras nem ortopedistas às segundas pela manhã. O hospital também tem menos neurocirurgiões que o necessário, já que a unidade é referência em neurocirurgia em todo o Estado, segundo a direção.
"Não fazemos nem metade da cirurgia que tínhamos que fazer", afirmou a médica residente Alik Buttner, 27, que repudiou as declarações do governador.
Buttner afirmou que os residentes trabalham até 80 horas semanais pelo salário de R$ 1.837 mensal no hospital. "Me sinto imensamente ofendida com essa declaração. Nos estamos aqui trabalhando, não como vagabundos. Eu estou há 48 horas direto aqui".
Nesta sexta-feira, uma ambulância do município de Belford Roxo (Baixada Fluminense) levou ao Getúlio Vargas um paciente que passaria por cirurgia neurológica, mas o procedimento foi cancelado. Dentro do hospital, cinco pacientes esperavam por operações, segundo a direção.
Três deles conseguiram ser transferidos para outras unidades: a aposentada Cecília Rodrigues da Silva, 72, que estava com obstrução intestinal, Elvis Maria Mota, 20, com apendicite, e Thiago dos Santos Freitas, 5, que tinha apendicite há cinco dias, segundo os médicos. A Secretaria Estadual de Saúde do Rio ainda não informou se os pacientes já passaram por cirurgia.
Durante o protesto feito pelos médicos na manhã desta sexta-feira, dois pacientes, um deles com fratura exposta, foram à emergência do hospital mas não puderam ser atendidos por causa da falta dos profissionais.
"Se alguém chegar hoje [sexta-feira] aqui baleado e precisar ser operado, vai ter que ser transferido", disse a presidente do Cremerj, Márcia Rosa de Araújo, autora do processo contra o governador Sérgio Cabral.
Polêmica
O conflito entre Cabral e os médicos começou na segunda-feira (22/09), quando o governador, em discurso, chamou de "vagabundos" e "safados" os médicos que faltaram ao plantão do último domingo (21/09) e estendeu a crítica aos profissionais que não cumprem os plantões. O Cremerj, após sindicância, afirmou que três dos seis médicos já estavam com o contrato vencido com a cooperativa pela qual era contratados, um terceiro ficou doente e os outros dois eram pouco experientes para operar sozinhos.
"Não aceitamos esse tipo de acusação. Os médicos fazem de tudo para poder trabalhar em um hospital como este [Getúlio Vargas], se desdobram, sem ter colegas o suficiente. A emergência daqui atende a uma área de quase um milhão de pessoas, incluindo o complexo do Alemão", disse a presidente do Cremerj.
Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que está convocando médicos para trabalhar no hospital Getúlio Vargas através do site do órgão na internet. Sobre as críticas do sistema de contratação de médicos por cooperativas, a secretaria disse que vai criar uma fundação na qual os médicos concursados trabalharão sob a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que "oferecerá melhores condições de trabalho e salário".