A conservação das áreas de vegetação nativa do cerrado, que já teve mais de 40% da cobertura vegetal devastada para dar lugar às pastagens e agricultura, depende de mobilização e de alternativas econômicas para o desmatamento. O diagnóstico é do pesquisador e professor da Universidade Federal de Goiás, Laerte Ferreira, apresentado no livro A Encruzilhada Socioambiental: Biodiversidade, Economia e Sustentabilidade do Cerrado, lançado hoje (25), em Goiânia, com a participação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Segundo Ferreira, a devastação do bioma sempre esteve diretamente relacionada ao desenvolvimento de infra-estrutura, como pavimentação de rodovias, por exemplo. Os mapas produzidos pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) mostram que as áreas mais desmatadas coincidem com a malha rodoviária e com os pólos do agronegócio da região, principalmente nos estados de Goiás e Mato Grosso.
;As áreas remanescentes estão localizadas em regiões ainda desprovidas de infra-estrutura, com elevados índices de pobreza, baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]. A pergunta que fica é: como levar desenvolvimento a essas regiões e ao mesmo tempo conservar os remanescentes do Cerrado?;, questiona.
A solução, de acordo com o pesquisador, passa necessariamente por alternativas econômicas de estímulo à preservação, como benefícios fiscais para quem optar por práticas de produção sustentáveis e pela geração de créditos de carbono, para que o cerrado seja mais lucrativo conservado, e não desmatado.
;Essa aparente contradição entre desenvolvimento e Meio Ambiente não precisa existir; podemos ter desenvolvimento social, econômico e humano e preservar os recursos naturais;, pondera.
Levantamento da organização não-governamental Conservação Internacional, parceira do Lapig, estima que o bioma pode render cerca de US$ 20 bilhões em créditos de carbono. Segundo Ferreira, a geração de créditos viria de projetos de desmatamento evitado, que impedem a emissão de mais gás carbônico na atmosfera, e de reflorestamento de áreas já degradadas.
;Hoje boa parte do cerrado está alimentando a indústria siderúrgica, com carvão vegetal. Com o reflorestamento, é possível o uso de carvão de áreas reflorestadas e não de áreas nativas;, compara.
Ferreira argumenta, que assim como ocorreu na Amazônia, é preciso estimular a mobilização social em defesa da preservação do cerrado. ;A Amazônia entrou na pauta do cidadão comum. A expectativa é a mesma para o cerrado;. Uma das estratégias é o início da divulgação de imagens de satélite do Lapig sobre os alertas de desmatamento do bioma, semelhante ao Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), usado na floresta.
;Ao divulgar dados de desmatamento, estamos criando subsídios para que o governo tenha melhores instrumentos de pensar a gestão territorial e ambiental do bioma. Com a divulgação, estamos alertando as pessoas para a questão ambiental do cerrado, que é grave."