O jornal cearense Diário do Nordeste denunciou, na edição de sexta-feira (19/09), que a Secretaria Estadual de Justiça só se deu conta de que 26 presos do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) simplesmente ;sumiram; enquanto mudava o sistema de cadastro dos detentos de manual para digital. O IPPS, que fica em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, é o maior presídio do estado, com capacidade para 950 presos, mas abriga hoje 1.290.
A informação sobre o suposto sumiço, que era tratada de forma sigilosa pelas autoridades cearenses, acabou vazando graças a uma fonte não revelada pelo jornal. As suspeitas indicam que os presos saíram do IPPS em dias de visita, às quartas-feiras e aos domingos, com a possível ajuda de servidores públicos. O secretário estadual de Justiça, Marcos Cals, negou a fuga dos 26 presidiários e a informação de que eles tenham conseguido escapar pela ;porta da frente;, como sugere a reportagem do jornal. De acordo com ele, durante este ano, houve apenas três fugitivos no IPPS: Alexandre de Sousa Ribeiro, o Alex Gardenal, José Luciano Evangelista Cazuza, o Barriga, e Rubens Ramalho de Araújo, o Rubão.
Destes, somente Rubão, especialista em assaltos a carros-fortes, continuaria desaparecido. Cals informou que uma sindicância apurou a fuga dos dois primeiros. Segundo ele, foi concluído que os detentos contaram com a colaboração de dois agentes prisionais e de dois policiais. Os quatro servidores estão sendo processados administrativamente e poderão ser demitidos.
O clima é tenso na unidade prisional. Na madrugada de sexta, houve um princípio de rebelião. Dois presidiários foram mortos por companheiros de cela.
Interdição
Segundo o jornal cearense, o promotor de justiça do município de Aquiraz, Francisco Marinho, pretende solicitar a interdição do presídio. ;O que está acontecendo no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) é um escândalo. Podemos pedir ao juiz da comarca de Aquiraz a interdição deste presídio. Estamos analisando esta possibilidade. Esse procedimento seria feito no sentido de não permitir que a penitenciária recebesse mais presos e, ainda, que o excedente fosse remanejado.;
Marinho ressaltou a superlotação do local. ;Já esteve com o dobro da capacidade - 1.801 detentos - no ano passado;, ressaltou. A superlotação e a falta de controle sobre os presos ali abrigados - que ficou evidente com as últimas notícias de fugas e "desaparecimentos" de detentos - criaram um clima tenso na penitenciária, que vem resultando na ocorrência constante de assassinatos. ;Só este ano, já contabilizamos 10 mortes violentas dentro do presídio;, assinalou o representante do Ministério Público em entrevista ao Diário do Nordeste.
Segundo Marinho, todas os crimes que ocorrem dentro do presídio são apurados devidamente, começando por um inquérito policial instaurado na Delegacia Metropolitana. ;Muitas vezes, durante a investigação, um detento assume a culpa. Isso não quer dizer que ele tenha sido o autor. Ele assume como "laranja", a mando de outros;, explicou, acrescentando que no IPPS, a exemplo dos outros presídios, prevalece a "lei do silêncio".
Para o promotor de Justiça, medidas mais fortes têm que ser adotadas com urgência. ;Por esta razão, consideramos que a penitenciária não deva mais receber presos. Só hoje (ontem), entraram mais dez. Dois dias antes, seis presos perigosos retornaram do presídio federal (do Mato Grosso do Sul) para o IPPS. Tudo isso colabora para que a situação ali só fique pior;, ressalta Francisco Marinho.