Há dois anos como representante da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o belga Vincent Defourny acredita que o Brasil precisa deixar de encarar a violação aos direitos humanos como algo que ;aconteceu e vai passar; para buscar uma ;cultura de paz;.
Que avaliação o senhor faz dos relatórios que apontam desrespeito aos direitos humanos no Brasil?
Eles nos obrigam a dar uma resposta. Não se pode extrapolar a situação de todo o país a partir de um relatório, mas a situação descrita sobre o Complexo do Alemão, por exemplo, onde a violência impede o acesso à escola, mostra uma realidade que sabemos que existe em outros lugares do Brasil. É importante ter uma lógica de situação de emergência para manter o direito à educação. É preciso reorganizar o sistema escolar como se faz em casos de catástrofes e conflitos armados.
Seria o caso de utilizar as Forças Armadas para proteger estudantes e professores?
São problemas complexos que precisam ser avaliados, que exigem uma coordenação de segurança, do Exército e dos governos. Os relatórios falam em reunir esses atores para elaborar um plano que organize transporte e garanta o ensino. As pessoas não podem ficar expostas a balas perdidas e confrontos.
A situação do Brasil é crítica comparada ao cenário mundial de violação de direitos?
Infelizmente não é única. Acho que a característica preocupante no Brasil é não encarar a violação de direitos humanos como uma questão mais grave. Aqui, as pessoas parecem pensar que a violação aconteceu e vai passar. Como quem fica doente e acha que em três dias vai melhorar.
Como combater a violência?
A Colômbia pode ser uma referência para o Brasil. Bogotá tinha muitas características semelhantes às cidades brasileiras. Um conjunto de ações e, sobretudo, uma liderança política forte conseguiram romper o estigma da violência e restaurar os serviços públicos. Foram 15 anos de trabalho contínuo na construção de uma cultura de paz.