O goiano Mohamed D;Ali Carvalho dos Santos, 20 anos, confessou nesta quinta (31/07) ter matado e esquartejado a inglesa Cara Marie Burke, 17. O rapaz disse em depoimento que matou a menina com uma facada nas costas na noite de sábado, no apartamento onde ele morava de aluguel, em um bairro de classe média de Goiânia. O rapaz passou a madrugada em um show de funk e, pela manhã, cortou em pedaços o corpo da estudante. As partes foram jogadas em pontos diferentes das margens de um rio que corta a cidade. Mohamed alegou ter matado a britânica porque ela ameaçou contar à família dele e denunciar à polícia o envolvimento do jovem com drogas. Investigadores encontraram pedras de crack no local do crime.
Até o fim da noite de quinta, policiais e bombeiros não haviam localizado a cabeça, os braços e pernas da vítima. O tronco foi encontrado dentro de uma mala, na segunda-feira, perto da BR-153, nos arredores de Goiânia. Mohamed chegou a fotografar a adolescente depois do crime. Imagens do corpo esquartejado foram gravadas no celular dele. O aparelho e a faca usada pelo rapaz estão com a perícia.
A arma e um par de luvas também utilizado pelo acusado estavam em um bueiro na rua do apartamento dele. No interior do imóvel, policiais identificaram grande quantidade de sangue, que acreditam ser da inglesa. O rapaz disse ter dado o golpe fatal nas costas, que acertou o coração da estudante. ;O crime está esclarecido. O assassino foi preso, confessou e a vítima está identificada;, afirmou o delegado Jorge Moreira, chefe da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios, em Goiânia.
Mohamed foi indiciado por homicídio triplamente qualificado ; por motivo torpe, meio cruel e sem direito à defesa. Pode pegar de 12 a 30 anos de cadeia caso seja condenado. Um rapaz identificado pela polícia como Jorginho acabou indiciado por co-autoria e ocultação de cadáver. Ele deu carona a Mohamed em um Monza marrom na tarde domingo. Mohamed carregava o corpo mutilado de Cara. ;Ele (Jorginho) alegou que só soube do corpo quando estavam perto do Meia Ponte (o rio onde a mala foi deixada). Mas acompanhou a desova e não denunciou o amigo;, disse Jorge Moreira.
O delegado apontou indícios de um crime premeditado. ;Mohamed atraiu Cara para seu apartamento, ligou o aparelho de som em alto volume e a matou com facadas. Logo em seguida, levou o corpo para o box do banheiro e saiu para uma festa;, explicou Moreira. Em depoimentos prestados ontem, vizinhos do rapaz e funcionários do prédio onde ele morava alegaram não ter ouvido gritos no apartamento onde ocorreu o assassinato justamente por causa do som alto.
Os porteiros disseram aos policiais Mohamed e Cara viviam brigando. A menina costumava dormir no apartamento dele, de acordo com os funcionários e os vizinhos. Há 40 dias, um dos porteiros registrou ocorrência de agressão contra o rapaz. Ele o teria ameaçado após um bate-boca. ;Ele era um pequeno traficante de cocaína. Por isso, passava o dia dentro do apartamento, onde recebia muitas visitas, clientes. À noite, sempre ia para festas;, contou o chefe da Homicídios goiana.
Tatuagem
Cara Marie veio sozinha para Goiânia. Todos os familiares dela moram em Londres (Reino Unido), assim como a mãe de Mohamed, uma brasileira que trabalha como cuidadora de idosos. Ela mandava dinheiro regularmente para o filho, que não trabalhava. O aluguel de onde o rapaz morava havia quatro meses estava pago por um ano. O brasileiro morou em Londres durante dois anos, segundo a polícia. Foi lá que a britânica conheceu o jovem. Cara desembarcou no Brasil pela primeira vez em abril (leia abaixo), com o rapaz goiano. A menina também costumava dormir na casa de uma amiga brasileira, em Goiânia.
A adolescente foi identificada na noite de quarta-feira, quando a notícia de que a Polícia Civil de Goiás investigava quem era a jovem esquartejada foi veiculada na Rede Record Internacional. Até então, sequer havia uma ocorrência de desaparecimento da jovem ; pois ela costumava ficar dias com o namorado e o sumiço não foi notado. Uma amiga de Cara identificou o corpo por meio de uma tatuagem mostrada pela reportagem da TV brasileira. A família foi avisada e então começaram os contatos com o delegado Carlos Raimundo Lucas Batista, da Delegacia de Homicídios, em Goiânia, por meio da Embaixada do Reino Unido no Brasil. Foi somente então que a polícia recebeu as primeiras informações a respeito da garota.
O Correio tentou conversar com a mãe de Cara, Ane Marie, em Londres, no começo da noite de ontem. Por telefone, chorando compulsivamente, ela desabafou: ;Meu bebê está morto, cortado em pedaços, dentro de uma mala e em seu país (o Brasil).; Logo em seguida, ela desligou o aparelho.