A voz firme foi substituída pelo silêncio. A força, pelo abatimento. A menina Hamanda Brás Pereira, 8 anos, chegou nesta quinta (17/07) a Pernambuco com um comportamento bem diferente do demonstrado nas entrevistas de tevê. Ela foi a única sobrevivente de um acidente ocorrido na noite de terça-feira, em Uberlândia (MG), que vitimou seus pais e sua irmã, Maíza, 4 anos. Amparada pelo tio Joan Brás, que foi buscá-la na casa de uma prima em Minas, ela saiu da área de desembarque do Aeroporto Internacional dos Guararapes numa cadeira de rodas. Escoltada por policiais militares, a garota pareceu assustada. Ela balbuciou palavras em direção aos repórteres e seguiu direto para um táxi que a levou até a cidade natal, Santa Cruz da Baixa Verde (PE), sertão do estado, a 445km de Recife. Mais perto de casa, pareceu tomar a real ciência da tragédia que comoveu o país.
Hamanda foi a última a embarcar no avião que partiu do Rio de Janeiro rumo à capital pernambucana. Magrinha, com o lado direito do rosto bastante arranhado e com o olhar distante, ela se limitou a dizer que ;estava bem;. E declarou que sentia saudades de casa.
No saguão de desembarque, não havia parentes esperando pela menina. As famílias do caminhoneiro Hermes Delfino Pereira e da secretária Janaína Brás de Lima Pereira, ambos de 33 anos, aguardaram a chegada dos caixões para dar início ao velório da família em Santa Cruz. O enterro ocorre hoje, às 10h, no Cemitério Baixa das Flores. Demonstrações de solidariedade, no entanto, não faltaram. Nas mãos, Hamanda carregou presentes dados por anônimos. Gente que deixou de lado as obrigações do dia para ver de perto a corajosa conterrânea que, após o acidente, demonstrou uma maturidade surpreendente para sua idade.
Férias
Nervosa pela situação e por estar viajando pela primeira vez de avião, a garota procurou se acalmar conversando com as comissárias de bordo e funcionários do aeroporto. ;Hamanda contou que, na hora em que o caminhão capotou, o pai disse: ;Filha, vou te proteger;. E jogou o corpo contra o dela. Ela não chegou a chorar durante o vôo, mas pareceu estar com medo. Suspirou e lamentou a morte dos pais o tempo todo;, contou Vanessia Miguel do Nascimento, funcionária de uma empresa de táxi.
Os familiares da menina disseram que ela sempre teve personalidade forte. ;Mas ficamos surpresos com a coragem dela. É difícil perder os pais e a irmã, a quem Hamanda era muito ligada;, justificou José Hilton Brás, avô materno da menina. Segundo ele, a neta era acostumada a viajar com o pai pelas estradas do país. ;Ela contou os dias para a chegada deste mês, porque estaria de férias e poderia viajar;, disse.
Inteligente, Hamanda cursa a 3; série do ensino fundamental. No ano passado, o conselho escolar resolveu adiantá-la um ano nos estudos. Um dos seus passatempos favoritos é passar o dia em frente ao computador, navegando pela internet. ;Para minimizar a dor que ela está sentindo, vamos comprar um para ela na próxima segunda. É uma forma de distraí-la;, comentou uma das tias, Janine Brás.