Falhas mecânica e humana, pista molhada, norma desobedecida? Prestes a completar um ano, o acidente com o Airbus A-320, que matou 199 pessoas em 19 de julho de 2007, ainda não foi esclarecido. ;O que causou a tragédia? Só teremos essa resposta daqui a dois meses;, disse ontem o promotor que acompanha as investigações do acidente, Mário Luiz Sarrubbo. O inquérito do acidente já soma 50 volumes, contendo 300 depoimentos e 13 mil páginas. Segundo Sarrubbo, a peça, prevista para ser concluída em outubro, deve indiciar até 10 pessoas por homicídio culposo (sem intenção) e lesão corporal.
As peças do quebra-cabeça são muitas. Um laudo concluído na semana passada garante que o asfalto da pista de Congonhas não tinha textura suficiente para receber um avião do porte do Airbus, principalmente porque a pista estava molhada e escorregadia. No entanto, ainda há muitas questões a serem solucionadas. ;As informações sobre a pista são importantes, mas não esclarecem tudo o que ocorreu;, ressalvou Sarrubbo. De acordo com o promotor, as investigações apontam, até o momento, indícios de negligência e imprudência que contribuíram para a tragédia. ;Há a possibilidade de serem denunciados no inquérito servidores da Anac e da Infraero que administram aeroportos brasileiros, além de funcionários da TAM;, disse Luiz Sarrubbo.
Segundo afirmou nesta segunda (15/07) o delegado que preside o inquérito sobre as causas do acidente, Antonio Carlos Barbosa, se a administração do Aeroporto de Congonhas tivesse seguido uma norma da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) o acidente poderia ter sido evitado. ;A norma a que me refiro proíbe o uso da pista do Aeroporto de Congonhas com reverso inoperante em pista molhada;, ressaltou. A Anac alega que a regra ainda não estava em vigor na época do desastre, por ter sido questionada na Justiça por uma série de entidades. Segundo o órgão regulador, essa proibição só passou a valer a partir de março deste ano. O delegado disse também que a TAM sabia que não poderia operar em Congonhas com reverso travado.
Caixa-preta
O promotor Sarrubbo diz ainda que a caixa-preta do avião registrou um dado que possivelmente é a principal causa do acidente. ;Durante o pouso, um dos motores do avião permaneceu em aceleração. Esse motor estava com reverso travado (pinado);, diz. Inconcluso e confuso, o inquérito aponta em outro volume que poderia ter havido ainda uma falha humana descrita da seguinte maneira: ;Teria faltado percepção dos pilotos para uma falha técnica que poderia ser corrigida a tempo de evitar a tragédia ou não;.
Como o avião estava acelerando no momento do pouso, os chamados spoilers, que ficam na parte de cima das asas e funcionam como freios aerodinâmicos, não atuaram. Resultado: o Airbus avançou a cabeceira da pista, passou pela Avenida Washington Luiz, uma das mais movimentadas de São Paulo, e colidiu com um prédio da própria TAM, explodindo em seguida. Dados da caixa-preta revelam que o piloto e o co-piloto tentaram parar a aeronave, sem sucesso.
O delegado Barbosa voltou a dizer nesta segunda (15/07) que não pode afirmar de maneira categórica que houve falha humana. ;Podemos afirmar que uma alavanca estava na posição errada. Mas não sabemos se isso decorre de um erro humano ou se foi uma falha mecânica.;