Um menino e uma menina do Estado do Rio devem receber nos próximos dias as córneas de João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, informou a Secretaria de Estado de Saúde. O transplante depende ainda de o tecido ser aprovado no teste feito pelo Banco de Olhos, para afastar o risco de transmissão de doença infecto-contagiosa. Se tudo estiver certo, a cirurgia tem prazo de 12 dias para ser realizada. Por lei, a identidade dos receptores não pode ser revelada.
A mãe de João, a advogada Alessandra Soares, voltava para casa quando percebeu que um carro da Polícia Militar (PM) vinha em alta velocidade atrás dela. Ao encostar para dar passagem aos PMs, ela foi surpreendida com o fuzilamento do seu carro, um Fiat Palio grafite. Os policiais perseguiam um Fiat Stilo preto, mas confundiram os carros. Eles desceram do veículo policial e dispararam pelo menos 15 tiros contra o carro da advogada. João foi atingido por uma bala na nuca, outra nos glúteos e ainda foi ferido de raspão na orelha. O menino teve morte cerebral diagnosticada na segunda.
A decisão dos pais de João Roberto de doar os órgãos de João Roberto joga luz para uma questão séria - a dificuldade de captação de órgãos de crianças. No Rio, apenas 10% dos transplantes realizados beneficiam crianças. Cerca de 1.500 aguardam na fila por rim, fígado ou córneas. "É uma situação muito difícil em função do apego dos pais. Ninguém está preparado para lidar com esse momento, ainda mais quando se trata de crianças. É uma situação extremamente delicada", disse a diretora do Rio Transplante, Ellen Barroso.