Jornal Correio Braziliense

Brasil

Conselheiros tutelares atuam como guardiões da lei

Fiscais da aplicação do ECA têm disposição para trabalhar, mas enfrentam dificuldades

Eles são os verdadeiros guardiães do ECA. Sabem os artigos de cor, batem à porta das casas para apurar denúncias e, muitas vezes, percorrem longas distâncias, a pé, com o objetivo de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes. Não à toa, 71% do diagnóstico da situação da infância nos municípios, de acordo com uma pesquisa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), é fruto do trabalho dos conselheiros tutelares.

Uma função criada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para consolidar o sistema de proteção aos brasileirinhos. E o mais importante: é um órgão autônomo, que coloca nas mãos da sociedade civil o dever ; e o poder ; de zelar pelos direitos da infância. Com membros eleitos pela comunidade, o conselho tutelar trabalha em conjunto com a Justiça, mas sem qualquer vínculo hierárquico.

A lei estabelece que todos os municípios brasileiros tenham um conselho composto por cinco membros. Dezoito anos depois da promulgação do ECA, 12% das cidades ainda não contam com conselhos tutelares. E a condição dos existentes está longe do ideal. A pesquisa Conhecendo a realidade, da SEDH, revela que 52% dos conselheiros consideram o local de trabalho ruim ou regular.

Se faltam condições adequadas, sobra dedicação. Com uma média de 600 atendimentos em um ano e meio como conselheira tutelar, Selma, 42 anos, é tratada com carinho pelas pessoas que recebe. Como Tamara (nome fictício, em respeito ao ECA(, 16 anos, ex-dependente química. "Hoje, eu e a Selma somos amigas. Se trabalho hoje é graças a ela, que me encaminhou para o emprego", diz a adolescente, que trabalha num viveiro de plantas.

Para o presidente da Associação dos Conselhos Tutelares do DF, Antônio Roldino, porém, muitas pessoas ainda desconhecem a função. "A impressão que a sociedade tem é que o conselho é um órgão de repressão. Trata-se de um ranço do Código de Menores", acredita Roldino, que atua em Samambaia. O código ao qual se refere foi substituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e legislava sobre os "menores em situação irregular": de órfãos a adolescentes em conflito com a lei. "É preciso saber, porém, que hoje a realidade é completamente diferente", ensina.