Acusado de entregar os jovens do Morro da Providência a traficantes, o tenente do Exército Vinícius Ghidetti afirmou nesta quinta (03/07) que chegou a ver quando os três rapazes começaram a apanhar dos bandidos, na base do Morro da Mineira, no Rio de Janeiro. Durante depoimento ao juiz Marcello Granado, da 7; Vara Criminal da Justiça Federal no Rio, o militar chorou ao falar sobre sua familia e afirmou que ;queria só dar um susto; nos rapazes, que foram executados com 46 tiros. Ele disse que é casado há seis meses e que tem um filho de 2 meses.
Durante o interrogatório, o tenente Ghidetti disse que não estava previsto entregar Wellington Gonzaga da Costa Ferreira, de 19 anos, David Wilson Florenço da Silva, de 24, e Marcos Paulo Rodrigues Campos, de 17, para os traficantes. Segundo o militar, o encontro com os criminosos foi fortuito. ;Tanto que ficamos assustados. Por isso, o sargento Maia foi até eles para explicar que não era nenhuma operação. E que só queríamos dar um susto nos três, que tinham nos desacatado;, assinalou, negando que tenha oferecido os rapazes como ;um presentinho; aos traficantes, como disseram os praças à polícia.
Na quinta foram ouvidos seis dos 11 militares acusados pelo crime e que respondem por homicídio triplamente qualificado. Nos interrogatórios, ficou evidente a diferença da estratégia da defesa de Ghidetti em relação à dos demais militares. Enquanto o oficial tentava convencer o juiz de que só queria dar um corretivo nos três jovens, os praças insistiram que desconheciam a intenção do tenente.
Pensão
Em Brasília, durante audiência na Câmara, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que vai apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um projeto para indenizar as famílias dos jovens mortos. ;Estamos fazendo um levantamento e pensando em algo como um salário mínimo por família;, afirmou. Jobim foi convocado para falar sobre a participação de militares do Exército na segurança de um projeto de reforma de casas no Morro da Providência. O ministro disse que está sendo investigado o envolvimento de integrantes das Forças Armadas com o tráfico no Rio.
Jobim considerou um ;equívoco; a paralisação das obras e negou que a presença de tropas no morro tivesse relação com a disputa eleitoral no Rio. Admitiu, porém, que a obra, da qual o Exército fazia a proteção, seria de interesse do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), candidato à prefeitura do Rio. ;Essa obra foi patrocinada, no início, pelo senador Crivella, mas tem um sentido social;, ponderou. As obras do projeto Cimento Social receberam R$ 12 milhões do Ministério das Cidades por meio de emenda do senador. Para Jobim a questão eleitoral está ;contaminando o processo;. Ele evitou comentar o relatório parcial apresentado pela comissão especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) que aponta a existência de uma ;relação promíscua; entre as Forças Armadas e o crime organizado no Rio. ;Não conheço o relatório;, pontuou.
Ao presidir a reunião do conselho, em que foi lido o relatório parcial da comissão especial do CDDPH, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, avaliou que a morte dos três jovens poderia ter sido evitada pelo capitão do Exército Leandro Ferrari. ;Na minha avaliação, o capitão (Ferrari) também erra quando percebe sinais de descumprimento da ordem;, observa.
Ouça podcast: Paulo Vannuchi, secretário de Direitos Humanos da Presidência da República