Grávida de gêmeos, Michele Progênio, não queria dar a luz na Santa Casa de Misericórdia de Belém. Viajou por 13 horas - de ônibus e barco - de Muaná, na Ilha do Marajó, à capital do Pará, com a indicação para fazer uma cesariana o mais rápido possível. Internada no dia 23 de junho, foi mandada de volta para casa três dias depois. Pouco mais de 48 horas após receber alta, ela deu entrada novamente no hospital, com uma forte hemorragia. No domingo, às 11h30, os gêmeos foram retirados, já sem vida.
Aos 19 anos, desempregada, semi-analfabeta e com uma gravidez de risco, Michele já tinha ouvido falar da falta de estrutura do hospital, onde 22 bebês morreram em menos de um mês.
Na manhã de quarta (02/07), apenas os irmãos de Michele foram ao enterro dos bebês, enquanto ela continuava internada. Ao lado de outros dois pequenos caixões - também vindos da Santa Casa - os gêmeos foram sepultados em uma cova rasa do Cemitério Municipal Tapanã, onde os recém-nascidos ocupam 20% das covas. "Esses bebês são os únicos que vão pagar pelo erro do hospital", afirma Maria Georgina Progênio, irmã de Michele.