Jornal Correio Braziliense

Brasil

Via Campesina faz protestos em treze estados

Via Campesina e Assembléia Popular realizam manifestações contra política agrícola brasileira e aumento do preço de alimentos. Grandes empresas foram os alvos preferenciais das várias ações

Agricultores ligados ao movimento Via Campesina e trabalhadores urbanos da Assembléia Popular realizaram nesta terça (10/06) uma jornada nacional de protestos em treze estados. Os alvos das manifestações foram principalmente prédios, ferrovias, plantações e hidrelétricas ligados a grandes empresas que, segundo as entidades, causam prejuízos ao país e são responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos ; seja por meio do estímulo à monocultura, seja com a ocupação de áreas que poderiam ser usadas em plantações. As ações contaram com apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Em alguns lugares houve confronto com a polícia. No município de Passo Fundo (RS), onde uma fábrica de alimentos foi invadida, pelo menos oito manifestantes ficaram feridos. A confusão começou quando os policiais decidiram apreender um caminhão que levava alimentos para os ocupantes da empresa. Um tumulto foi gerado e houve correria. A polícia lançou bombas de gás lacrimôgêneo, causando queimaduras em algumas pessoas.

Em São Paulo, a invasão a um prédio da empresa Votorantim por cerca de 600 manifestantes também terminou com cinco feridos. A ocupação durou cerca de meia hora e terminou com a chegada de policiais. Tiros foram disparados para o alto e foi lançada uma bomba de efeito moral do lado de fora do edifício. Houve cinco prisões. O objetivo era denunciar os impactos ambientais causados pela hidrelétrica de Tijuco Alto, que a empresa pretende construir na divisa de São Paulo com o Paraná. A Votorantim repudiou a ação e afirmou, em nota, que sempre teve ;compromisso com o desenvolvimento sustentável;.

Os movimentos informaram que o objetivo das mobilizações era denunciar ;problemas causados pela atuação das grandes empresas no país;. Outras companhias, como a Vale e a Odebrecht, também foram visadas.

Em Belo Horizonte, pouco mais de 300 pessoas bloquearam a Ferrovia Centro Atlântica para impedir a passagem de um trem da Vale carregado de minério. Os manifestantes colocaram fogo em pneus sobre os trilhos e subiram no veículo, exigindo a indenização de pessoas vítimas de acidentes com trens e a transposição da linha. De acordo com a Via Campesina, moradores da região pedem o deslocamento da ferrovia há 25 anos. O protesto terminou depois de uma reunião dos manifestantes com representantes da Vale. Em comunicado, a empresa chamou as ações de ;criminosas;.

Em Mirante do Paranapanema (SP), 500 militantes do MST ocuparam as obras de construção de uma usina de açúcar e álcool, da Odebrecht. Os manifestantes obrigaram os trabalhadores a se retirar do local e montaram barracos, ameaçando permanecer ali por tempo indeterminado.

Monocultura
Os movimentos sociais informaram que protestavam também contra a política agrícola do governo, a imposição da monocultura da cana-de-açúcar e do eucalipto ; responsável pela ;crise do preço dos alimentos; ; e a transposição do Rio São Francisco, que ;beneficiará apenas os latifundiários do agronegócio;. Na Paraíba, os alvos foram plantações de cana. Já no município de Carpina (PE), trabalhadores rurais ocuparam e destruíram parte da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (EECAC), mantida em parceria entre o Sindicato do Açúcar e do Álcool e a Universidade Federal de Pernambuco.

Em Montanha (ES), o protesto foi contra a instalação de uma nova usina pertencente a uma empresa estrangeira. Em Santa Catarina, cerca de 700 trabalhadores protestaram em frente a uma empresa de papel e celulose e devem distribuir 500 mudas de árvores nativas e 15t de cestas básicas para a população de Otacílio Costa. Eles também planejam plantar mudas, em protesto contra a plantação de eucalipto e pinus que, de acordo com eles, ameaça o solo.

No Nordeste houve protesto contra a transposição do São Francisco. Na Bahia, manifestantes ocuparam a usina de Sobradinho, da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Em Alagoas, cerca de mil pessoas fizeram uma manifestação contra as obras de transposição. Os movimentos anunciaram que vão divulgar hoje, em Brasília, as razões dos protestos e apresentar sugestões para mudanças na política agrícola do governo federal.

Os alvos
Os protestos atingiram três grandes empresas:

Vale: Em Belo Horizonte, manifestantes bloquearam trecho da Ferrovia Centro Atlântica, impedindo a passagem de um trem da companhia

Votorantim: prédio da empresa foi invadido em São Paulo, em protesto contra a construção da hidrelétrica de Tijuco Alto, entre São Paulo e Paraná

Odebrecht: em Mirante do Paranapanema (SP), militantes do MST ocuparam as obras de construção de uma usina de açúcar e álcool da empresa.