Em audiência pública promovida nesta terça (10/06) pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o ministro da Justiça, Tarso Genro, rechaçou o argumento de que a soberania nacional ficará prejudicada caso a demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol seja feita. "Não é a continuidade ou descontinuidade [da demarcação] que vai dar maior potência à soberania do Estado brasileiro naquela região. Não está em jogo a soberania. Há uma falsa questão federativa;, declarou o ministro. O futuro da região, palco de intensos conflitos entre arrozeiros e índios, deve ser decidido no segundo semestre do ano, quando o Supremo Tribunal Federal se manifestará sobre a legalidade da demarcação contínua.
A senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, destacou a demarcação da reserva como uma questão civilizatória, lembrando que os arrozeiros que lá residem serão indenizados pelo governo. "Arroz nós podemos plantar em qualquer terra fértil, mas uma cultura que acha que o mundo foi criado a partir do Monte Roraima nós só temos ali", destacou a senadora. Para Francisco Rezek, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-juiz da Corte Internacional da Haia, ressaltou que o problema é complexo e exigirá "responsabilidade" do STF.
Rezek fez uma comparação entre o caso Raposa Serra do Sol e outro, relatado por ele há 14 anos no STF. No processo citado, o Estado de Minas Gerais garantiu na Justiça a devolução de terras para os índios Krenaque, que haviam sido retirados de suas terras por grupos oportunistas que visavam a comercialização dos recursos minerais. "Isso demonstra a preocupação do Tribunal de não desonrar os preceitos constitucionais que protegem os índios contra a usurpação de suas terras", afirmou Rezek. O caso da Raposa Serra do Sol está nas mãos do ministro Carlos Ayres Britto, relator do processo. Ele apresentará a melhor forma de demarcação, se por ilhas ou de forma contínua - da região.