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Depois de 34 anos do incêndio, edifício Joelma ainda causa medo

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O executivo Amauri Modesto de Oliveira, 34 anos, está arrumando as gavetas do escritório de 350m² que mantém no Edifício Praça das Bandeiras, no Centro de São Paulo. Mesmo a sala sendo espaçosa e possuindo uma vista excelente, Amauri decidiu mudar o endereço de sua empresa de informática. Boa parte de seus clientes se recusa a ir até a empresa por pura superstição. O prédio em que o executivo montou base pegou fogo em 1974, matando 189 pessoas e ferindo 345. ;Dizem que esse lugar tem energia espiritual forte e é assombrado. Por isso estamos desocupando;, conta. Na época do incêndio, o edifício se chamava Joelma. Para não haver qualquer ligação com a tragédia, depois de reformado e modernizado, na década de 80, o prédio mudou de nome. Mas o receio das pessoas em relação à construção não diminuiu. Segundo relatos, lá, portas se fecham sozinhas e é possível ouvir vozes estranhas nas escadas e garagem. Amauri não é o primeiro a desocupar o antigo Joelma por conta dos mistérios que cercam o lugar. Dos 25 andares, sete estão desocupados. ;O Centro de São Paulo é um lugar bastante procurado, mas ninguém quer alugar salas no Joelma porque os empresários acreditam que vão se dar mal nos negócios;, conta o corretor de imóveis, Arthur Lima, 34 anos. ;Os clientes ligam aqui pedindo o endereço e eu digo: ;Avenida 9 de Julho, 222, Edifício Praça das Bandeiras, Centro;. Aí a pessoa pergunta: ;Tem alguma referência?;. Sou obrigada a dizer que é o antigo Joelma. Lógico que a criatura desiste de vir, né?;, conta a secretária Lílian Macedo Teixeira, 20 anos. Ela trabalha há dois anos na empresa de Amauri. Espírita, Lílian revela que não tem medo do lugar e lamenta a empresa deixar o local. ;A vista é linda. É bem central e perto do metrô. Acho que gosto daqui porque, em vidas passadas, eu fui uma das pessoas que se jogaram do prédio para não morrerem queimadas. Vim para terminar a minha missão;, acredita a jovem. Ela conta que, muitas vezes, o elevador pára em um andar desocupado mesmo quando o comando foi para que parasse no 22º. ;Não tenho medo algum;, insiste. A vista do edifício realmente é uma atração à parte. Das janelas frontais, pode-se ver a Catedral da Sé, a imensa bandeira do Estado de São Paulo no topo do prédio do antigo Banespa e o Vale do Anhangabaú. Das janelas laterais, avistam-se as famosas antenas coloridas dos arranha-céus da Avenida Paulista. ;Eu acho que o maior problema desse prédio nem são as assombrações, mas sim o CEP, que é 01313-000;, arrisca Lílian. Ela conta com entusiasmo que nasceu no mesmo dia em que o prédio ardeu em chamas: 1º de fevereiro. Por conta da escassez na procura, as salas do edifício estão desvalorizadas. A imobiliária que administra o imóvel aluga um andar inteiro por R$ 9 mil ou meio andar por R$ 4 mil. As salas maiores têm 650m² e as menores, 350. Na mesma região, imóveis com o mesmo tamanho nunca são alugados por menos que R$ 12 mil. ;Todo mundo fala que tem espíritos rondando o prédio. Mas eu nunca vi nada por aqui;, diz o vigilante noturno do Joelma, Cláudio Ventura, 24 anos. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense