Jornal Correio Braziliense

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Estudante é torturada por mais de dez horas pelo amante em BH

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A estudante de pedagogia Eliene Maria Coelho, de 40 anos, torturada, por mais de 10 horas, pelo amante, o estudante de direito e agente penitenciário Cristiano Eloy Gomes, de 32, encontrou forças para relatar à polícia momentos de pavor. Internada no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, sem previsão de alta, ela pensou que não sairia viva do que considera um pesadelo. O crime foi na madrugada de segunda-feira (26), na casa dela, no Bairro Ipiranga, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Os gritos de dor deixaram apavorados vizinhos, que chamaram a Polícia Militar. O motivo da tortura, segundo a vítima, foi ciúmes do namorado, que passou o domingo tomando cerveja e esvaziou uma garrafa de gim. Segundo ela, Cristiano queria saber detalhes de relacionamentos antigos da amante e se já o havia traído. Ela respondeu que já teve outros namorados, mas ele deu início e começou a selvageria. Primeiro, Cristiano começou dando socos e chutes. Depois, arrastou Eliene para o quarto, fechando portas e janelas para abafar os gritos e o barulho das pancadas. ;Ele arrancou um pedaço da cadeira de ferro que estava no quarto, para atingir a vítima, o que causou o corte que deixou suas vísceras expostas;, conta a delegada Verlaine Andrioni de Assis, do 20º DP do Cachoeirinha, lembrando que também foi apreendida uma faca de 20cm de lâmina, usada para fazer perfurações em várias partes do corpo. Eliene teve todo o rosto cortado pelo amante, que quebrou o seu nariz e quase todos os seus dentes. ;O que a vítima nos relatou demonstra que Cristiano é uma pessoa extremamente fria. Eliene tentava cobrir as vísceras expostas, mas ele não permitia. Depois, ele tentou recolocá-las. Ela sentia muita dor e pedia para parar. Mas, toda vez que insistia, ele a agredia ainda mais, mandando-a calar a boca. Cristiano dizia que iria pôr as vísceras para dentro e que ele mesmo ia costurar a barriga;, conta a delegada. No início da tortura, a estudante foi obrigada a limpar as manchas de sangue espalhadas pela casa, mas logo depois as agressões recomeçaram e tudo ficou manchado de novo. Ela também foi obrigada a tomar banho para limpar o corpo. ;Ficou claro que ele queria mesmo era matá-la, mas não de uma vez. Ele queria causar todo aquele sofrimento e prolongar a dor. Para Eliene, foi uma experiência traumática. Ela perdeu muito sangue e também a noção do tempo;, disse a delegada. Os vizinhos da vítima contaram que durante toda a madrugada escutaram gritos de dor, mas sempre que a polícia chegava, a casa ficava em silêncio, já que , segundo Eliene, o amante a mandava calar a boca, ameaçando-a de morte. A vítima também contou que não é dela o medicamento para transtorno do pânico encontrado na casa, mas o amante a obrigou a tomá-lo, dizendo que ficaria calma e que ia dormir. Eliene cuspiu as cápsulas sem que ele percebesse. ;Não acho que ele seja um desequilibrado. Acho que isso é mesmo maldade e possessão. Mesmo vendo todo o sofrimento dela, manteve-se frio o tempo todo, querendo costurá-la;, acrescentou a delegada, que pretende concluir o inquérito em 10 dias e pedir à Justiça a prisão preventiva do acusado, para mantê-lo preso por mais tempo. Ameaças e agressões O casal se conheceu há quatro anos na faculdade onde estudam, mas não demorou muito para o acusado revelar o seu verdadeiro perfil, o de uma pessoa ciumenta e impiedosa. Eliene contou que sofria as agressões em silêncio, não somente pelas ameaças de morte a ela e à família, mas também por vergonha da situação. ;Ela confirmou que já teve um braço quebrado e que o olho ficava roxo constantemente. Disse que foi professora de escola infantil e não teve o contrato renovado porque sempre chegava ferida ou se ausentava em razão das agressões. Eliene nunca chegou a dizer nada a ninguém, por sentir vergonha;, informou a delegada. A estudante conta que tentou terminar o romance várias vezes, mas Cristiano não aceitava e fazia mais ameaças, dizendo que a mulher dele, com quem tem três filhos pequenos, também sofria as mesmas agressões. Cristiano também falava que, se fosse preso e condenado, ficaria no máximo dois anos na cadeia e sairia para acertar as contas com a amante. ;Ele demonstrava total descrédito na Justiça, mesmo sendo agente penitenciário;, disse Verlaine. O acusado está preso no Ceresp São Cristóvão, autuado por tentativa de homicídio e enquadrado na Lei Maria da Penha. Mesmo assim, Eliene continua apavorada. A delegada encaminhou quarta-feira à Justiça pedido de proteção para ela. A família já providenciou a mudança dela para o interior e entregou ao dono o imóvel em que morava. Assim que receber alta, a estudante vai se recuperar na casa de parentes em Belo Horizonte e pretende recomeçar vida nova em alguma cidade do interior. ;Cristiano acabou com a sua própria vida, com a vida de Eliene e também da sua mulher;, lamenta a delegada.