Jornal Correio Braziliense

Brasil

Ambiente hospitalar pode ser uma ameaça de infecções

No dia de controle da infecção hospitalar, especialistas alertam que médicos brasileiros ainda resistem em adotar medidas simples que podem tornar atendimento a pacientes mais seguro

Uma legião de bactérias, fungos, vírus e germes invade os hospitais e ameaça os pacientes todos os dias. Sanitaristas e epidemiologistas consideram a questão um problema de saúde pública mundial. Segundo estimativa da Organização Panamericana de Saúde (Opas), entre 5% e 10% das pessoas que são internadas contraem uma ou mais infecções. No Brasil, estima-se que o percentual seja de 13%, mas os dados não são muito confiáveis, o que tende a agravar ainda mais o problema. O último estudo do Ministério da Saúde de abrangência nacional sobre o assunto foi realizado em 1994.

Para tentar amenizar o impacto do exército de microrganismos nos hospitais brasileiros, o governo instituiu o 15 de maio como o Dia Nacional do Controle de Infecção Hospitalar. Apesar de a data ter sido fixada há nove anos, pouco se avançou no combate ao mal. A dificuldade de barrar os inimigos invisíveis vai desde a precariedade nos serviços médicos à falta de formação adequada dos profissionais de saúde. Gerente da Anvisa comenta sobre infecção hospitar Professora fala de medidas de controle da infecção ;A gente vive uma contradição. Existem as comissões de controle de infecção hospitalar, mas quem previne o problema é quem cuida diretamente do paciente e, normalmente, não faz parte da comissão;, observa a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Anna Sara Levin, coordenadora do respectivo grupo no Hospital das Clínicas. Segundo a médica, os hospitais sabem como evitar infecções, mas o desafio é implantar as medidas. ;O simples fato de passar um álcool na pele do paciente antes de colocar um cateter, evita complicações. São técnicas do dia-a-dia que não podem ser esquecidas pela equipe;, esclarece. Apesar de ser regra nos hospitais, a especialista acredita que muitos profissionais ignoram. ;Mesmo quem conhece tudo, às vezes não aplica o que sabe. Esse é o desafio;, afirma. Alguns hospitais estaduais da rede pública do Espírito Santo têm conseguido diminuir os efeitos da infecção hospitalar orientando visitantes e acompanhantes de pacientes internados a como se comportar dentro de um hospital. O trabalho de conscientização começou com a orientação a religiosos que costumam ir ao hospital confortar os doentes. ;Evitar contato com mais de um paciente faz parte das orientações;, ensina a funcionária da Vigilância Sanitária do Espírito Santo, Ângela Lourenço Lopes. Monitoramento Todo serviço de saúde no Brasil é obrigado a manter um programa mínimo de monitoramento desse risco desde 1997, mas, enquanto 80% dos 7 mil hospitais públicos com leitos de internação no país têm comissão de controle de infecção hospitalar, cerca de 60% deles não possuem ações efetivas de prevenção. ;Temos avaliado que um grande percentual dos serviços de saúde não apresentam programas de controle. E a maioria dos hospitais que são obrigados por lei a manter uma comissão de controle nomeada nem sempre realiza ações efetivas;, destaca Leandro Queiroz, gerente de investigação e prevenção de infecções e eventos adversos da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). ;Esse é um problema de saúde pública tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento;, avalia o especialista Guillermo Figueroa, chefe do laboratório de microbiologia e probióticos da Universidade do Chile. Segundo estudo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), cada caso de infecção hospitalar no Brasil onera o sistema em até US$ 1,4 mil, em média, além de aumentar a internação hospitalar em torno de 14 dias. Nos Estados Unidos, estima-se que 2 milhões de americanos internados contraem infecção, por ano. Desse total, 100 mil morrem. Os custos para os cofres públicos do país gira em torno de US$ 30 bilhões.

Seminário em Brasília Profissionais de saúde de todo o país e representantes de organismos internacionais estiveram ao longo da semana reunidos no II Seminário Nacional de Prevenção e Controle de Infecção em Serviços de Saúde, promovido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As discussões do evento, que terminou ontem, trataram desde questões técnicas até a importância de higienização no atendimento médico. ;É uma das práticas mais importantes na prevenção porque reduz a transmissão de bactérias;, observa Leandro Queiroz, gerente de investigação e prevenção de infecções da Anvisa. A redução dos índices de infecção neonatal foi outro ponto discutido. O diretor da Anvisa, Cláudio Maierovitch, lembrou que a ação é uma das prioridades do programa Pacto pela Vida, do Ministério da Saúde. ;Cerca de 60% da mortalidade infantil no Brasil ocorre no período neonatal;, informou.