O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, criticou nesta sexta-feira a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, "mancha a imagem do Brasil no exterior." Bida chegou a ser condenado, em janeiro de 2007, a 30 anos de prisão como mandante do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, no sul do Pará. Em novo julgamento, na última terça-feira, o fazendeiro foi absolvido pelo Tribunal do Júri de Belém. "Acho que nós temos de parar com esse tipo de consideração. Quer dizer, o resultado da condenação é que atenderia a boa imagem do Brasil? E se de fato essa pessoa for inocente. Eu não disponho de dados, talvez o presidente disponha", disse Mendes.
Para discordar da posição manifestada por Lula, Mendes citou o assassinato do imigrante brasileiro Jean Charles de Menezes pela polícia britânica, no metrô de Londres, em julho de 2005. Jean Charles foi morto com oito tiros ao ser confundido com um terrorista. Os policiais não foram punidos. "Engraçado, nós acompanhamos o episódio do Jean Charles em Londres. Os senhores viram os resultados das decisões, inclusive decisões judiciais, investigações. Alguém acha que a imagem da Inglaterra ficou manchada no mundo por conta desse episódio?", questionou o presidente do STF.
Mendes observou que decisões judiciais controvertidas acontecem "toda hora", no "mundo todo." Ele também citou o desaparecimento da menina britânica Madeleine McCann, de 4 anos, em maio do ano passado, quando estava hospedada em um quarto com os pais e irmãos num complexo turístico de Portugal. O presidente do STF lembrou que se trata de um episódio sem solução até o momento, "um fenômeno misterioso".
"Alguém diz que a imagem de Portugal ou da Inglaterra está manchada no mundo por conta disso? Vamos limitar os fatos a eles próprios." Mendes ministrou palestra no Congresso Brasileiro de Jornalismo Investigativo, que está sendo realizado em Belo Horizonte. Ele também comentou a disputa envolvendo a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima.