Uma grande redução da contaminação industrial poderia, ironicamente, prejudicar a Amazônia, segundo um estudo da Universidade britânica de Exter publicado nesta quarta-feira (07/05) pela revista britânica Nature.
Os autores estabeleceram uma relação determinante entre a diminuição das emissões de dióxido de enxofre procedentes das fábricas e o aumento da temperatura no Atlântico Norte, considerado o responsável pela seca devastadora registrada no oeste da Amazônia em 2005.
O professor Peter Cox e seus colegas da universidade criaram um programa capaz de simular o impacto dos aerossóis no clima da Amazônia.
Apesar de ser contaminante, a pesquisa demonstrou que esses produtos limitam indiretamente o impacto das mudanças climáticas, já que ao refletir a luz do sul, evitam o aquecimento da superfície terrestre.
Nos anos 70 e 80, segundo o estudo, a altas concentrações de aerossol nas áreas industrializadas do hemisfério norte contiveram os efeitos das mudanças climáticas nas águas do Atlântico Norte, provocando assim mais chuvas sobre a Amazônia.
Contudo, as reduções das emissões de dióxido de enxofre das fábricas leva a uma diminuição dos níveis de aerossol, provocando o aquecimento das águas do Atlântico. Como conseqüência, os parâmetros de chuva se modificaram e em 2005 houve a forte seca da Amazônia.
O estudo projeta que a partir de 2025 as secas poderão acontecer a cada dois anos.
Em 2060, as florestas poderão sofrer da falta de chuva nove anos em cada dez.
O que ocorre na Amazônia afeta não apenas a região, mas sim todo o clima mundial. Suas florestas abrigam um décimo de todo o dióxido de carbono armazenado na superfície terrestre.
A perda da vegetação, através do desmatamento e da seca, poderá ter um impacto dramático na já preocupante mudança climática, segundo os pesquisadores.
"Para melhorar a qualidade do ar e proteger a saúde pública, devemos continuar reduzindo a contaminação produzida pelos aerossóis, mas o estudo sugere que isso deverá ser acompanhado de cortes urgentes de dióxido de carbono para minimizar o risco de que a floresta amazônica se degrade", disse Cox.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU alertou no ano passado para o aumento das temperaturas globais que poderão transformar florestas tropicas da América Latina em zonas semi-áridas nas próximas cinco décadas.
O desmatamento nos trópicos representa cerca de 20% das emissões de CO2 no mundo, a segunda causa das mudanças climáticas, atrás apenas da queima de combustível fóssil.