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Promotor do caso Isabella deve ouvir filho de suspeitos

Pedido para depoimento do menino deve constar da denúncia que Francisco Cembranelli apresenta hoje à Justiça. Documento vai requerer ainda prisão preventiva de Alexandre Nardoni e Anna

São Paulo ; Ao formalizar hoje na Justiça de São Paulo a denúncia contra Alexandre Nardoni, 29 anos, e Anna Carolina Jatobá, 24, o promotor Francisco Cembranelli deverá pedir que o juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri de Santana, autorize o depoimento do filho mais velho do casal, Pietro Nardoni, 3 anos. O menino é apontado pela polícia como única testemunha ocular do assassinato de Isabella Nardoni, 5. Se o pedido for aprovado, Pietro será submetido ao programa Justiça Sem Dor, que extrai depoimentos de crianças de forma natural e sem traumas, com a ajuda de psicólogos. Ontem, duas integrantes do Conselho Tutelar de Guarulhos visitaram a família de Pietro e Cauã, 1 ano, e, segundo disseram, constataram que as crianças passam bem e não aparentam traumas psicológicos. Como até agora não foi possível provar que as 20 manchas de sangue encontradas no carro e no apartamento do casal indiciado são, de fato, de Isabella, Cembranelli está cada vez mais convencido que o depoimento da criança é fundamental para esclarecer quem matou a garota. Os advogados dos suspeitos são contra a medida. ;Vamos argumentar que uma criança de 3 anos ficará traumatizada se for ouvida na Justiça;, diz o defensor Rogério Neres. No relatório que concluirá hoje, o promotor também pede a prisão preventiva de Alexandre e Anna Carolina. O juiz Maurício Fossen, que analisará o pedido, é o mesmo que decretou a prisão temporária do casal no mês passado. Os advogados de defesa dizem ter certeza que, desta vez, Fossen não acatará o pedido. Segundo o grupo que atende os suspeitos, não será preparado habeas corpus preventivo, comum nessas situações para garantir que suspeitos aguardem julgamento em liberdade. ;Nossos clientes são inocentes e, com o tempo, vamos provar;, garante Neres. Cembranelli passou o feriado prolongado analisando as cerca de 1,2 mil páginas do inquérito elaborado pela Polícia Civil. Depois que chegar à Justiça, a denúncia poderá ser aceita ou não pelo juiz Fossen. Se for aceita, o que é mais provável, as testemunhas serão ouvidas novamente. O promotor disse, ontem, que o relatório que ele entrega hoje inclui o motivo pelo qual Alexandre e Anna Carolina teriam matado. Crianças As duas representantes do Conselho Tutelar de Guarulhos que viram ontem os filhos dos dois indiciados disseram, em relatório, que os meninos estão bem de saúde. Segundo elas, durante a visita ao apartamento de Alexandre Jatobá, 46, avô materno das crianças, Alexandre e Anna Carolina não foram vistos. As conselheiras não fizeram qualquer pergunta às crianças sobre a tragédia que se abateu sobre a família. Segundo a conselheira Nilza Alves, o objetivo da visita é garantir que os direitos das crianças sejam atendidos. ;O nosso trabalho é delicado, não vamos expor as crianças;, disse. Como Cauã e Pietro não estão recebendo atendimento psicológico, as conselheiras sugeriram aos avós dos meninos que sejam providenciadas sessões de terapia para saber como elas estão lidando com a morte de Isabella. Assim que as conselheiras chegaram ao prédio, os advogados Ricardo Martins e Rogério Neres subiram para o apartamento da família Jatobá. De acordo com o secretário-geral do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que o Conselho Tutelar converse com as crianças, seus pais e avós para colher informações sobre o bem-estar delas. Segundo ele, as representantes do Conselho Tutelar podem ainda fazer um acompanhamento psicológico semanal das crianças.