O presente de aniversário este ano veio antecipado para Marcos Oliveira, tetraplégico depois de ser baleado em assalto no Recife. Marquinhos completa 26 anos no próximo sábado, mas o que ele mais queria aconteceu nesta terça-feira (29): recebeu um marcapasso frênico, em cirurgia inédita no Brasil, e finalmente começa a sonhar com a volta para casa. O que nem os médicos conseguem explicar (a sobrevivência do rapaz após ter as vértebras C1 e C2 lesionadas por causa do disparo e a paralisação do diafragma) agora toma rumos ainda mais surpreendentes. Com a cirurgia, além de respirar sem ajuda de aparelhos, Marquinhos vai poder voltar a emitir sons ao falar, comandar a própria cadeira de rodas elétrica e até usar o computador.
Não é à toa que a família está chamando o dia de hoje como o marco de recomeço da vida de Marquinhos. Lutando judicialmente para que o governo estadual pagasse a cirurgia, avaliada em R$ 279 mil (dos quais R$ 108 mil foram usados somente para comprar o marcapasso), tia, irmã e esposa do jovem agora batalham por outras reivindicações.
Elas querem que o governo compre duas cadeiras de rodas elétricas para tetraplégicos, uma para o banho e outra para locomoção (cada uma custa, aproximadamente, R$ 20 mil), adaptação da casa para cadeirantes e uma pensão vitalícia por perdas e danos morais, materiais e estéticos. "Marquinhos ganhava R$ 3 mil na empresa que trabalhava e agora, além dos gastos com ele próprio, tem que sustentar o filho de um ano e sete meses", diz a irmã, Patrícia Oliveira.
A cirurgia de ontem demorou seis horas. Às 8h, Marquinhos entrou na sala de cirurgia, mas a primeira incisão só ocorreu às 11h. O primeiro passo foi identificar o nervo frênico, que comanda o diafragma e que estava inativo, e implantar ali o eletrodo, logo abaixo da pele.
O aparelhinho subcutâneo funciona como um receptor que capta os sinais do transmissor - antena que fica grudada no peito, bem em cima de onde foi implantado o eletrodo. É essa antena que comanda os estímulos elétricos jogados sobre o nervo frênico. Assim, o diafragma, aos poucos, começa a funcionar novamente. A terceira parte do marcapasso é uma bateria, também externa, que pode ser acoplada a algum cinto.
A equipe médica que participou da cirurgia, americanos e brasileiros, comemoraram com entusiasmo o sucesso da implantação do marcapasso. "O mais importante é que esse tipo de paciente não tem nenhum tipo de perspectiva. Geralmente, quando conseguem chegar vivos ao hospital, o que acontece é que tanto família quanto médicos se conscientizam que ele não poderá voltar a respirar sem a ajuda mecânica. Quando aparece uma técnica como essa, o paciente volta a ter esperança de vida. E vida com qualidade", ressaltou o cirurgião toráxico Cláudio Gomes. Ele e o neurocirurgião Alex Caetano acompanharam o cirurgião plástico Lloyd Krieger o neurocirurgião Abbott Krieger, este com experiência de 35 implantes de marcapasso frênico na carreira, durante o procedimento.