Com algumas experiências pessoais em 13 sentimentos, uma comédia romântica, o diretor Daniel Ribeiro aborda desenfreadas vivências relacionadas a amor e desejo, em tempos de sexo virtual. O filme, que estreia nesta quinta (13/6) marca o retorno do diretor Daniel Ribeiro aos longas. Há dez anos, ele ocupou o posto de representante brasileiro para vaga no Oscar, com o filme juvenil Hoje eu quero voltar sozinho. E do que estava a fim, com o novo 13 sentimentos? "Queria passar para as pessoas uma temática em cima da idealização. O protagonista idealiza o passado, e idealiza todo mundo que ele vem a conhecer. Então, ele projeta coisas no cara que ele acabou de conhecer, depois ele vai idealizar um ex, depois, o outro ex... Assim por diante", observa. Entre tantas opções, João (Artur Volpi), o protagonista, fica perdido em meio ao regular uso de aplicativos de relacionamentos.
Para demarcar muita distinção entre quem performa para câmera e quem, efetivamente, curte sexo, Daniel Ribeiro investiu em cenas arriscadas, mais gráficas, mas com fundo artístico. "Queria que fosse registrado um sexo prazeroso, muito feliz, que tivesse sorriso, o olho no olho, que tivesse amor: com química forte, mas distanciado de pornografia gay, especificamente", conclui. Confira a entrevista.
Entrevista // Daniel Ribeiro, cineasta
Filme gay existe? Digo, a nomenclatura...
Acho que, sim, existe o filme é gay, são muitas coisas neste: é gay, é brasileiro, e é uma comédia romântica. Há uma etiquetinha que se pode colar nos filmes. Gosto disso também: estar nesse escaninho, mas que não é o único dele. Acho que tem um público que gosta desse tipo de filme: há quem goste de filme brasileiro, que goste de blockbuster, que goste de filme de super-herói, e tem um público que gosta de um filme da caixinha do LGBT. É bom estar focado no público: falo com este público, especificamente, mas, ao mesmo tempo, sempre expando meus filmes.
Hoje eu quero voltar sozinho (2014) também trata da solidão. São mais intrigantes estes personagens desgarrados?
Pelo menos a solidão dá mais conflito. Em busca do primeiro amor, o protagonista do filme anterior vai se descobrindo. Neste filme ele está se redescobrindo quem ele é. Quando você está casado há um tempo, como o João, há momento em que você já não sabe quem é você, quem é o outro. Enquanto ele está procurando outras pessoas para se relacionar, ele está tentando entender quem ele é. João acaba se encontrando de alguma maneira.
As pessoas estão mais propensas ao virtual ou mesmo quando elas querem o real parecem incorporar mecanismos de preservação dos sentimentos. Isso meio que fundamenta o filme, não?
Ouvi muitas pessoas que comentam da frustração, no excesso de opções de parceria, mas da falta de profundidade das relações. Isso é uma questão que acontece na comunidade. Agora é um momento de refletir sobre isso. Vejo os aplicativos (de relação) como muito divertidos e mais positivos do que negativos. Ainda assim, o panorama traz certa ansiedade. No embalo do: 'Eu estou com uma pessoa, mas será que não tem um monte que poderia ser até melhor? Se busca uma perfeição. A pessoa sai com uma pessoa, super legal, com quem está bem e conversa, mas, num defeitinho ali, que incomoda, se diz: 'Vou tentar achar alguém que não tem nenhum defeito'. Nesse mecanismo, as pessoas acabam perdendo a oportunidade de conhecer e de se aprofundar.