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Renato Souza
Especial para o Correio
Voltar ao ritmo das aulas após mais de um mês de férias não é uma tarefa fácil para
os estudantes. É necessário alguns dias de adaptação para que eles se acostumem novamente com o
horário de acordar retomem o foco para os estudos. Especialistas afirmam que os adolescentes são
os que mais enfrentam dificuldade nesse período e que, por isso, precisam de tanta atenção dos
pais quanto as crianças.
A diferença de comportamento de crianças e adolescentes na sala de aula é nítida. O menores
tendem a ser mais curiosos, a fazerem mais perguntas em sala e se apegam mais aos materiais
escolares. Por isso, fica mais fácil envolvê-los no processo de volta às aulas com a
personalização de cadernos e a organização de estojos e de mochilas, por exemplo.
O papel de acostumar o aluno com as rotinas da escola vai além da instituição de ensino. Pamela
Cristine da Silva, 25 anos, é mãe de Victor Hugo Costa, 6, que ingressará a no ensino
fundamental, em uma escola pública no Jardim Botânico. Desde os dois anos de idade ele foi
matriculado no maternal e agora, no período de férias, a mãe mantém a rotina do estudante de
acordar cedo para que ele não perca o hábito.
"Eu não deixo ele dormir até tarde, mesmo nas férias, já pensando no período das aulas. Ele não
tem videogame, para não ficar acordado até tarde, e geralmente só brinca aqui na rua mesmo",
relata Pamela. "Ele é um garoto muito bom e que se adaptou bem na escola. Quando o coloquei no
maternal a adaptação foi rápida. Ele gosta bastante dos coleguinhas, do material escolar. Estou
tentando colocar ele em uma escola aqui perto de casa, para ficar mais fácil e onde o primo dele
já estuda, mas até agora não consegui vaga", completa.
A psicóloga Ana da Costa Polonia, professora do curso de psicologia da Unieuro,
estuda as relações entre a escola e a família. Ela destaca que a preparação para voltar ao ritmo
normal das aulas deve começar uma semana antes do início do ano letivo. "Uma coisa importante é
apontar para a criança que as férias foram somente um período de descanso e destacar que a
rotina normal vai reiniciar. Deve-se lembrar para o estudante mais pequeno o que se fazia antes
das férias. Lembrar quando eles acordavam", explica. "Uma boa estratégia é chamar a criança para
fazer um calendário de rotinas. Pode-se usar uma cartolina ou colar avisos com os horários na
parede", destaca a especialista.
A professora destaca que é importante tomar algumas medidas antes da volta às aulas para evitar
que os estudantes tenham problemas nos primeiros dias. "Uma ação importante nessa semana que
antecede a volta do período letivo é fazer com que a criança durma mais cedo. Não deixar que
fique até tarde na televisão", ressalta.
Ela lembra ainda que a alimentação não pode ser deixada de lado nesse período de preparação. "Os
pais devem explicar que agora vão existir horários para as refeições, que o sorvete e outros
alimentos que a criança gosta só serão consumidos agora no fim de semana. Com isso, as crianças
vão se adaptar muito melhor e não terão dificuldades de aprendizado", afirma.
Uma coisa importante é apontar para a criança que as férias foram somente um período de descanso e destacar que a rotina normal vai reiniciar"Ana da Costa Polonia, psicóloga
Com o início das aulas, o desafio de prender a atenção dos estudantes é repassado
aos professores. A atenção e apoio que os alunos têm nas primeiras séries do ensino fundamental
são cruciais para definir como eles vão evoluir ao longo das séries seguintes e a vontade que os
discentes terão de aprender. A professora Angela Macedo, 43 anos, dá aulas para estudantes do 1º
ao 4º ano, no Centro de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, em Planaltina. A professora
destaca que é perceptível a diferença no comportamento dos estudantes quando eles chegam das
férias para os demais dias do ano.
Segundo ela, é importante ter ferramentas pedagógicas para chamar a atenção dos pequenos durante
a rotina escolar. "As crianças chegam mais dispersas nos primeiros dias após as férias. Temos
que retomar o aprendizado do ano anterior. É preciso criatividade para prender a atenção deles.
Geralmente, uso histórias infantis para atrai-las. Podemos usar fantoches e livros com um tom de
voz mais agradável", ressalta Angela.
A pedagoga destaca que as famílias devem estar sempre presentes na vida escolar dos alunos.
Assim, a criança se adapta melhor e desenvolve o aprendizado de maneira mais fácil. "Os
estudantes menores demonstram mais alegria ao chegar à escola. A preguiça começa a surgir com o
avançar dos anos. As crianças passam a conversar mais em sala. O foco de atenção muda com o
avançar das séries. Por isso, os pais precisam acompanhar a vida escolar dos filhos", destaca.
Saiba como ajudar na adaptação do seu filho:
Uma semana de preparo
A preparação para o retorno das aulas deve começar na semana anterior ao início do ano
letivo. Nesse período, os pais devem evitar que os filhos fiquem acordado até tarde, para
descansarem e acordarem bem dispostos no dia seguinte.
Calendário e avisos
Com os filhos, os familiares devem confeccionar avisos e um calendário de rotinas. O
material deve ser fixado nas paredes do quarto do estudante ou em um mural confeccionado
para este fim. Pode-se usar cartolina, papel e outros materiais. Os avisos não devem ser
colocados em meios eletrônicos.
Alimentação definida
Na semana de preparação, os estudantes já devem voltar à rotina normal de alimentação. Com
hora definida para café da manhã, almoço e jantar. Também devem ser cortados doces, sorvetes
e salgados durante as refeições. Esses alimentos devem ser restritos ao fim de semana, a fim
de que o jovem não se acostume a comer esses itens na sala de aula.
Material organizado
O material escolar deve ser revisado e organizado na companhia da criança. É preciso
conversar com o estudante sobre a importância de ter os itens a serem levados para a aula
organizados, mostrar para que serve cada um e como tudo deve ser arrumado na mochila antes e
depois das aulas.
Uniforme arrumado
Os especialistas recomendam que exista um lugar no quarto para guardar o uniforme escolar.
Pode ser uma caixa em cima de uma cadeira ou um espaço no guarda-roupas. Assim, a criança e
o adolescente vão saber onde colocar o uniforme quando chegar da escola. Isso incentiva a
organização e o planejamento dos estudantes.
Independência
Quando o estudante, seja criança ou adolescente, realizar atividades relacionadas à rotina
escolar, ressalte que ele está mais independente. Frases de apoio, demonstrando
reconhecimento e orgulho incentivam os estudantes a serem protagonistas das próprias rotinas
e terem consciência das responsabilidades.
Fontes: Alba Lúcia Pezam, professora de psicologia do Iesb; e Ana da Costa Polonia
Apesar de estarem mais ansiosos para a volta das aulas, momento de retomarem o
contato com o ciclo de amizades, os estudantes com idades acima de 12 anos levam mais tempo para
voltar a acordar cedo e se desapegarem da rotina de férias, segundo especialista. Isso ocorre
principalmente porque os adolescentes precisam de mais horas de sono e de descanso do que as
crianças.
"O adolescente tem um perfil diferente e exige uma rotina mais pessoal. Com eles se deve ter uma
conversa mais pessoal sobre a importância da escola. Os pais precisam destacar que ser
independente é importante para eles. Geralmente após duas semanas de férias eles já estão
entediados, querendo voltar para a escola. Mas essa volta deve ser feita de forma tranquila, sem
pressão", destaca a psicologa Ana Polonia.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) apontou que os adolescentes
deveriam entrar na escola por volta das 8h30. No Brasil, um estudo realizado pelo Instituto de
Pesquisa e Orientação da Mente em parceria com o Instituto Sou +Jovem mostrou que 43% dos jovens
com idades entre 14 e 18 anos dormem de três a cinco horas por noite, levantando geralmente às
6h para irem à escola. Nas férias escolares, as horas de sono aumentam e o corpo se acostuma com
o descanso prolongado.
Ao voltar à rotina normal, de levantar cedo, o estudante pode ter um baixo rendimento escolar,
dificuldade de concentração e para fixar o conteúdo apresentado em sala. Segundo o estudo, se
adaptar à mudança pode levar várias semanas.
Renato Souza
Especial para o Correio
O primeiro dia de aula é marcante tanto para os pais quanto para as crianças. A partir desse
momento, os pequenos se tornam mais independentes e começam a trilhar o próprio caminho na
educação formal. Especialistas destacam que a presença dos familiares nesses primeiros instantes
é essencial e que os pais devem conhecer as instalações da instituição de ensino escolhida para
os filhos estudarem. Tanto na creche quanto na pré-escola eles devem ter acesso a atividades
para incentivar a percepção de espaço e desenvolver as primeiras habilidades cognitivas. O
aprendizado ocorre por meio de jogos e de brincadeiras.
Uma das questões que costuma preocupar os pais é decidir com que idade matricular a criança.
"Essa questão de idade exata para colocar a criança na escola acompanha os pais desde a
gestação; procura-se a melhor idade para tudo. As creches ou pré-escolas são espaços destinados
à educação de crianças, desde a socialização até o preparo e desenvolvimento para uma base
educacional mais sólida", resume o psicopedagogo Alfredo Lacerda, especialista em educação da
Unieuro. Ele destaca que o melhor período para colocar os filhos na escola depende de cada
criança. "Não existe uma idade exata, isso vai depender muito do estímulo e da prontidão da
criança. Quanto antes ela puder se socializar, frequentar o espaço escolar e introduzir as
atividades educacionais apropriadas à idade, melhor será para a criança e para a família",
afirma.
Além de levar em conta o perfil da criança, é necessário avaliar em que tipo de ambiente ela
conviverá. O especialista ressalta que a educação é formada por um conjunto de fatores, que vão
definir qual será a primeira impressão do aluno. Sentir-se bem desde o primeiro dia é
fundamental para que o estudante tenha uma vida escolar sem entraves. "O que se destaca nesse
momento é a importância da seleção dessa instituição que recepcionará a criança. É essencial que
os pais conheçam bem desde as instalações físicas, preparo e formação de profissionais, além da
proposta pedagógica da escola, que, por sua vez, deverá estar apropriada à idade da criança",
completa Lacerda.
De acordo com a legislação brasileira, até os 5 anos de idade, as crianças podem ser
matriculadas em creches e pré-escolas. Aos 6, a matrícula passa a ser obrigatória, e os pequenos
ingressam no primeiro ano do ensino fundamental, independentemente de terem ou não cursado a
educação infantil. No Distrito Federal, a Lei Orgânica garante a oferta de vagas em creches
públicas ou privadas que têm convênio com o governo.
O webdesigner Caio Lima, 28 anos, morador do Jardins Mangueiral, não pensou duas vezes em
colocar as filhas na escola o mais cedo possível. Caio é pai de quatro meninas, duas delas
estudam e as outras duas, Marília, 6, e Clara Alves, 4, se preparam para ingressar na escola.
Caio conta que a convivência entre as irmãs facilitou a adaptação à escola. "Nós decidimos
colocar as meninas cedo na escola para elas já irem se acostumando com o ritmo do ensino. No
primeiro dia, elas estranharam o ambiente, mas a adaptação foi muito rápida, por conta da
convivência com as irmãs e as primas. A Marília, que tem 6 anos de idade, entrou na creche desde
os dois 2 anos. Antes de irem à escola, temos uma conversa, explicamos como é a rotina e que vai
ser bem divertido", afirma Caio.
Para facilitar a adaptação das pequenas, Caio criou em casa um espaço com brinquedos
educativos e um ambiente parecido com o da escola. O objetivo é fazer com que as crianças se
acostumem com a rotina que vão ter e aprendam a conviver bem com os colegas. "Aqui em casa temos
vários brinquedos educativos no espaço destinado para as meninas. Assim elas vão interagindo
entre elas e se acostumando a fazer atividades em grupo. Analisando o comportamento das
primeiras duas, que já estão estudando, percebi que essa interação é fundamental", afirma.
"Acredito que é por conta disso que não tivemos problemas assim que elas ingressaram na creche.
A partir daí, é um caminho mais natural", complementa.
Para o estudante, a escola se torna uma extensão de casa e do convívio social. É hora de
conhecer pessoas novas, de aprender assuntos das mais diversas áreas do conhecimento. No
primeiro dia, por conta do contato com um ambiente diferente daquele que está acostumada, é
comum que a criança fique com receio da mudança. O professor Célio da Cunha, professor da
pós-graduação em educação da Universidade Católica de Brasília (UCB), ressalta que, nesses
momentos iniciais, os pais devem acompanhar os estudantes na escola. No primeiro dia de aula, é
recomendável que o responsável fique algumas horas na sala de aula ou local de atividade, até
que a criança se sinta confiável.
"Chorar no primeiro dia de aula é comum, e isso ocorre muito na pré-escola. O pai ou a mãe pode
ficar com a criança na escola por duas ou três horas, até que ela se ambiente melhor. O
responsável deve entrar na escola, interagir. A instituição de ensino precisa ter sensibilidade
em relação a isso e ficar atenta a conflitos. A criança é o centro da educação. Temos que ter
uma atitude pedagógica em relação a esses problemas", destaca o professor.
Mudança monitorada
Confira as dicas de especialistas para que o processo de adaptação à escola seja
tranquilo
Primeiro dia
Entre com a criança na escola, converse com o professor por alguns minutos e observe como ela se
comporta com as demais. Se ela resistir, fique na instituição por algumas horas. As escolas
devem entender que a presença dos pais, mesmo em sala de aula, é importante nesse momento.
Período de adaptação
É comum o estudante levar de duas a três semanas para se acostumar à rotina escolar. Choros,
birras e recusas em ficar no colégio são comuns. Caso durem mais tempo, pode ser a hora de
procurar um especialista. Pode ser um profissional da própria escola, especializado nesse tipo
de atendimento.
Instigar o conhecimento
Quando a criança não estiver na escola, procure levar ela a pontos turísticos, peças de teatro,
zoológico e mostre desenhos educativos. Isso vai propiciar o surgimento de dúvidas e
curiosidades que podem ser sanadas na escola.
Dificuldades de ambientação
Sempre existem as crianças que não se adaptam bem à rotina escolar. Não querem fazer as
atividades, não obedecem ao professor. Nesses casos, é necessário acompanhamento diário da
família, para saber como o estudante está evoluindo. Não espere receber uma notícia de
reprovação no fim do ano. A interação entre escola e família é capaz de resolver esse problema.
Casa não é escola
É importante ressaltar que algumas atividades devem ficar restritas à escola. O estudante não
deve ser pressionado a fazer atividades pedagógicas fora da sala de aula. As atividades de casa
devem complementar o ensino formal. Os pais podem coordenar o horário de estudo dos filhos, mas
devem evitar passar atividades além das solicitadas pelo professor.
Fontes: Célio da Cunha e Alfredo Lacerda
Fernando Caixeta
Especial para o Correio
Muitas mudanças esperam os alunos que terminaram o 5º ano do ensino fundamental em
2016 e vão começar o 6º em 2017. A "tia", que ensinava praticamente todas as disciplinas, sai de
cena. Os estudantes que passarem pela transição do primeiro para o segundo ciclo desta etapa do
ensino terão professores diferentes para cada matéria. Isso significa mais responsabilidade e
mais deveres de casa.
Essa nova etapa pode exigir outras adaptações, que não dizem respeito apenas ao conteúdo. Muitas
escolas separam as crianças que entram nos anos finais do ensino fundamental dos estudantes mais
novos. A separação pode ser física, com setores diferentes da escola para cada faixa de ensino,
ou em turnos diferentes para cada ciclo. Nesses casos, estudantes que estavam acostumados a
começar as aulas à tarde passarão a entrar no começo da manhã, o que deve exigir alguns dias de
adaptação para a nova rotina.
É o caso de Theo Oliveira, 11 anos, que terminou o 5º ano em 2016 e agora, no 6º, terá uma
rotina diferente da que levava até então. Theo estudava à tarde no ano passado e, neste ano,
terá de estar uniformizado, na porta da escola, às 7h30. O horário de saída é perto das 13h.
"Vou sair da aula morrendo de fome. Lá no meu colégio, a lanchonete fica perto das salas, então
quando eles estão cozinhando alguma coisa lá, entra aquele cheirinho bom de comida, que a nossa
barriga fica até roncando", brinca.
A mãe de Theo, Cristina Oliveira, diz que a mudança vai alterar a rotina da família. "Eu estou
na expectativa, vai ser uma novidade para todo mundo. Além de mudar de turno, a carga horária
vai aumentar. Ele vai ter mais professores, o que significa mais dever de casa. Também vai
precisar se adaptar ao novo horário e a logística de levá-lo à escola e buscá-lo também muda",
afirma Cristina.
Para Walmir Cardoso, doutor em educação matemática e coordenador da
Roquette Pinto, empresa de comunicação educativa, essa é uma passagem que implica num número
expressivo de mudanças. "Os estudantes deixam de ter um professor único em sala de aula e
passam a conviver com estilos diversificados de quase uma dezena de docentes diferentes",
explica.
Além disso, ele detalha que os tempos são marcados pelas durações determinadas das aulas em
cada disciplina, com o decorrente aprofundamento de conteúdo, níveis de exigência e
ampliação significativa no volume de tarefas para casa. "Soma-se a isso o fato de muitos
estudantes deixarem a rede municipal e passarem à rede estadual, o que implica em mudança de
escola. Para completar o quadro de complexidade dessas mudanças, os estudantes estão
entrando na adolescência", completa Cardoso.
De acordo com o psicólogo escolar Erich Botelho, o impacto causado pela entrada na segunda
etapa do ensino fundamental é menos intenso do que o causado no acesso ao ensino médio. Em
qualquer caso, no entanto, a família tem que ajudar na adaptação.
Algumas crianças chegam a essa nova etapa sem o devido domínio de alguns conteúdos que foram
ensinados. O psicólogo defende que, nesses casos o atendimento deve ser individual e
personalizado para cada criança. "Mesmo entre crianças da mesma faixa etária, com os mesmos
professores, aprendendo a mesma matéria, podem ter aquelas que compreenderam e aquelas que
não entenderam a matéria. Mesmo nessas condições em que tudo é igual, são indivíduos
diferentes. O grande desafio da escola é saber identificar isso", analisa Botelho.
O estudante Theo Oliveira, filho de Cristina, já está ciente de que 2017 vai ser um
ano com muito dever de casa. "Esse ano eu vou ter bem mais professores, pela primeira vez, vou
ter professor homem e uma matéria nova: espanhol. Acho que vai ser muito legal aprender esse
idioma", diz.
Apesar de tanta mudança, Theo aguarda o começo das aulas com ansiedade e expectativa. "Eu sei
que vai ter muita coisa nova, mas fiquei feliz em passar para o 6º ano e acho que não vou ter
problema para me acostumar', afirma.
Na avaliação de Walmir Cardoso, não existe uma quantidade padrão de lição de casa que deve ser
feita pelo estudante, mas a tendência é que aumente quanto mais professores entrarem em cena,
como ocorre a partir do 6º ano. Para o doutor em educação, se o tempo de dedicação para a lição
começa a exceder, sistematicamente, duas horas por dia, outras atividades igualmente importantes
podem ficar comprometidas.
"Com a lição de casa, o professor avalia o desempenho individual e coletivo dos estudantes. Ela
serve para sistematizar conhecimentos, pode ser usada como elemento preparatório de novas
atividades e também funciona para aprofundar temáticas desenvolvidas", diz o especialista.
Segundo ele, o ócio também é essencial na vida do estudante.
Ao completar a primeira metade do ensino fundamental, o aluno deve dominar alguns conteúdos para
conseguir acompanhar o ritmo a partir do 6º ano. "Creio que mais do que uma lista de conteúdos a
preocupação deve ser o processo para se chegar até esse estágio de complexidade. Por exemplo,
uma expectativa em língua portuguesa no fim do 5º ano é que o estudante possa revisar textos,
próprios e dos outros, em parceria com colegas, com intenção de evitar repetições, ambiguidades
e erros ortográficos e gramaticais", detalha.
"Para ele atingir essa etapa de desenvolvimento entre suas competências leitoras, é necessário
que, em anos anteriores, ele reescreva histórias conhecidas, ditando-as e, em outra etapa,
revise textos coletivamente com a ajuda do professor, prestando atenção aos aspectos de
coerência, coesão e ortografia."
Confira as dicas de especialistas para a mudança de ciclos:
- Deixar claro para a criança que ela terá mais responsabilidades a partir de agora;
- Estabelecer horários fixos para fazer a lição de casa;
- Reservar um tempo para as atividades físicas e brincadeiras;
- Auxiliar a criança na lição de casa, o que não significa fazê-la para ela;
- Indicar fontes de pesquisa e supervisionar resultados da criança.
Fernando Caixeta
Especial para o Correio
Um dos momentos que costuma marcar a trajetória escolar de crianças e adolescentes é a troca de
colégio. É praticamente inevitável que isso ocorra, uma vez que muitas instituições são
especializadas apenas em determinada faixa de ensino. Algumas só contam com turmas de educação
infantil, outras, do 1º ao 5º ano do fundamental. O papel da escola e dos pais para inserir o
aluno no novo contexto deve ser compartilhado, pois o aspecto emocional, que envolve a relação
do estudante com os amigos e o local, embora importante, não deve ser o único a ser levado em
conta. A linha pedagógica da também precisa ser considerada e, se possível, comparada com a
anterior.
Para a psicopedagoga Sílvia Celeghini, cada faixa etária recebe a mudança de uma forma e, muito
mais do que uma questão de idade, a adaptação leva em conta a personalidade do aluno. "A mudança
em si não provoca nenhum problema na criança ou no jovem. O que, às vezes, interfere é o perfil
psicológico e a personalidade, além de como a transição é feita e como o estudante é comunicado
disso. Também devemos observar se ela está preparada ou não e se a mudança ocorre
repentinamente", orienta.
O estudante de 15 anos Vítor Montefusco terminou o ensino fundamental no ano passado e vai
deixar a escola que estudou desde a infância. O grupo de amigos que fez na instituição onde
estudava vai para escolas diferentes. "Eu vou sozinho para essa nova escola. Do meu grupo, todos
vão para outros lugares. Fiz muitos amigos no ano passado. Estão todos passando pela mesma
situação", conta. A mãe dele, a servidora pública Liliane Montefusco, acredita que o filho não
terá dificuldade em se adaptar à nova instituição e fazer novos amigos. "Ele é muito sociável",
diz.
Liliane conta que a escolha levou em conta alguns critérios. "O primeiro é a proximidade de
casa. Agora, ele vai poder ir a pé ou de bicicleta. Antes, eu pagava uma van escolar para deixar
e buscar na escola, o que já era um gasto a mais, sem falar que a gente precisa pagar dezembro,
janeiro e julho, mesmo sem usar o serviço. Então, como a antiga escola dele só tinha turmas até
o 9º ano, e ele teria de mudar de qualquer jeito, optei por uma boa escola que fosse perto de
casa."
Casos como o de Vítor exigem dupla adaptação. Quando acabarem as férias, o estudante terá de se
adaptar à nova etapa de ensino em que ingressará e à nova instituição. Para Maria Eleusa
Montenegro, pós-doutora em psicologia da educação, tanta novidade pode exigir supervisão, mas
ela lembra que cada pessoa reage de uma maneira diferente. "Conforme o aluno vai avançando, ele
ganha mais liberdade, o que pode ser bom para uns e deixar outros perdidos. O normal é que a
criança consiga se adaptar sem maiores dificuldades. Caso isso não ocorra, é importante buscar
ajuda profissional", orienta.
Maria Eleusa Montenegro defende que mudanças como essas quando ocorrem
na infância marcam a formação do indivíduo e o preparam para outras situações de vida, sobre
as quais todas as pessoas passam. "A dinâmica de mudar de escola é a mesma da que se ela
tivesse mudado de bairro ou de cidade, por exemplo. A mudança tem o seu lado difícil, mas
nem por isso deixa de ser saudável", observa.
No período de adaptação, os pais devem ficar mais próximos da criança e ajudar a manter as
relações que o filho desenvolveu. "Se ele tiver ficado muito próximo de um amigo, os pais
devem levar para visitar. Isso evita grandes traumas, já que toda mudança gera
desequilíbrio. Se ele perceber o apoio que recebe nessa adaptação, isso ocorre sem grandes
preocupações porque a criança sente o apoio familiar", descreve.
As especialistas destacam que a opinião dos filhos deve ser levadas em conta na hora decidir
sobre a mudança de instituição, mas que a palavra final deve ser dos responsáveis. "Os pais
podem ajudar com muito diálogo, procurar saber o que a criança está sentindo. A partir de 6
ou 7 anos, a criança já pode opinar, falar o que ela quer e tentar uma negociação. Ela pode
participar desse processo de escolha, ir com os pais visitar as escolas. O diálogo é
fundamental. Às vezes, nós, pais, julgamos, fazemos escolhas que a gente acha que é melhor
por conta de uma referência nossa, mas a nossa necessidade pode ser diferente da necessidade
dos nossos filhos", argumenta Sílvia Celeghini.
Como deve ocorrer o processo de adaptação à nova escola?
Se o colégio não tiver uma linha pedagógica muito diferente, a adaptação ocorre sem grandes
problemas. A criança já conhece esse mecanismo de mudança porque ela já passou por isso em
outras fases da vida, como quando entrou na escola, quando saiu da educação infantil para o
ensino fundamental e também quando saiu do primeiro para o segundo ciclo do ensino fundamental.
A adaptação à nova escola vai ser a mesmo como se a criança tivesse mudado de casa ou de escola.
Como os pais devem contribuir nessa fase?
É um período em que os pais devem ficar mais próximos da criança. Se ela tiver feito algum amigo
muito próximo, levá-la para visitar esse amigo ou convidar esse amigo para sua casa. A mudança é
difícil, mas nem por isso deixa de ser saudável. Ao longo da vida, a gente passa por muitas
mudanças e isso deixa de ser desagradável e passa a ser uma situação cotidiana, que ocorre
quando a pessoa entra na faculdade, quando ingressa no mercado de trabalho.
E o papel da escola nesse processo?
A escola deve dar atenção especial ao aluno que veio de outras escolas, mostrar a estrutura
física, os novos professores e funcionários. Na medida em que o aluno vai amadurecendo, ele
aprende a lidar melhor com essas situações. Os adolescentes são um caso à parte, até pela
questão hormonal e afirmação da identidade, pode tornar mais difícil a mudança para um
adolescente do que é para uma criança menor. Uma das características da adolescência é se
desgarrar dos pais e buscar essa afirmação da identidade no grupo de amigos.
Fernando Caixeta
Especial para o Correio
Quando se fala em educação dos filhos não existe uma divisão brusca
entre o que é de responsabilidade da escola e o que deve ser ensinado em casa. Profissionais
de educação e psicólogos especializados em comportamento escolar afirmam que família e
instituições de ensino devem trabalhar de forma integrada, pois ambas têm papel essencial na
formação da personalidade de crianças e adolescentes.
A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), promulgada em 1996 e atualizada
praticamente todos os anos, prevê uma educação integrada, que não deve ser restrita somente
ao que o aluno aprende na escola. A lei prevê "a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber". No texto, também consta o pluralismo de
idéias e de concepções pedagógicas, a valorização da experiência extra-escolar e a
vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
A empresária Bruna Corrêa, mãe de Davi, 14 anos, Sophia, 13, Bruno, 6 e Bento, 3 anos,
acredita que a responsabilidade da escola é fornecer o conteúdo pedagógico e o
acompanhamento individual do estudante, informando, sempre, a situação escolar da criança
aos pais e responsáveis. Bruna faz questão de apresentar aos filhos vários pontos de vista
diferentes sobre o mesmo assunto. Até nos temas que, às vezes, levantam polêmica entre pais
e professores, como ensino religioso e educação sexual, ela transmite às crianças os valores
em que a família acredita, de maneira a complementar o que aprenderam na escola.
"As pessoas têm muita facilidade em delegar responsabilidades. As crianças ficam muito tempo
na escola e com outras pessoas, que não os pais, isso faz com que o pai e a mãe acabem só
supervisionando ou, às vezes, nem isso", observa Bruna. "Alguns assuntos, é bem mais
coerente a família ensinar, embora eu seja da opinião de que a criança precise ter noção de
tudo. Eu quero apresentar para os meus filhos várias questões e, claro, que ao lado deles eu
tento orientar, mas tenho que dar essa liberdade a eles."
Bruna acompanha de perto a vida escolar dos filhos e dialoga com eles sobre o que
têm aprendido na escola. "Não vejo problema de a escola contribuir na educação religiosa e
sexual, mas não é papel só da escola. Deixar só a cargo da escola, eu acho que é transferir uma
responsabilidade muito grande. De repente, a criança absorve informações e acaba aprendendo
valores que não correspondem aos da família", diz.
Para a psicóloga infantil e especialista em ludoterapia Vanessa Lacombe, cabe à instituição
planejar a melhor metodologia e aplicar as ferramentas disponíveis para contribuir para a
formação dos alunos, respeitando o ritmo de cada um. Segundo ela, aos pais, cabe acompanhar os
estudos, os interesses e o desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos filhos.
"A escola é primeira grande oportunidade de a criança expandir seu mundo social. São muitas
oportunidades de crescimento, aprendizado, amadurecimento, enfim, é onde se inicia um novo
caminho para a criança. A escola deve funcionar como mediadora do processo de desenvolvimento de
seus alunos", explica. Para a psicóloga, família e escola devem estreitar os laços e a
comunicação, com o objetivo de dar suporte aos estudantes. Isso pode ocorrer, segundo a
especialistas, por meio de reuniões que não tenham como objetivo tratar apenas do desempenho
educacional da criança, mas que também que busquem ampliar o olhar de ambas as partes sobre a
criança e o desenvolvimento.
A diretora da Escola Classe 304 Norte, Nara Gomes, concorda com a opinião da psicóloga. Há 28
anos trabalhando com educação, Nara acredita que a escola tem o papel de cuidar da parte
cognitiva e, cada vez mais, o currículo vem focando na formação do cidadão. "Se uma criança
estuda em tempo integral, ou semi-integral, a escola acaba entrando também na formação do
indivíduo, na postura, na questão da higiene pessoal, então o papel de educar acaba ficando
muito misturado", afirma.
Ela explica que a escola contribui para o desenvolvimento de habilidades e características já na
infância que preparam para outras fases da vida. "A questão do compromisso e da
responsabilidade, por exemplo, é uma delas. Para ajudar a desenvolver a responsabilidade, a
gente passa o dever de casa, mas a criança não dá conta sozinha, aí entra a família. Por isso
essa colaboração é tão importante."
Para ajudar a desenvolver a responsabilidade, a gente passa o dever de casa, mas a criança não dá conta sozinha, aí entra a família. Por isso essa colaboração é tão importante"Nara Gomes, diretora da Escola Classe 304 Norte
Existem aspectos particulares a cada faixa etária e precisam ser observadas com
atenção, conforme ressalta a psicóloga Vanessa Lacombe. "Cada indivíduo tem o seu tempo
particular de desenvolvimento, não devem ser feitas comparações entre crianças de mesma faixa
etária, por exemplo", explica. De acordo com a especialista, a criança aprende mais a partir de
atividades sensoriais, que envolvam o corpo e a experiência motora. Já o adolescente tende a
buscar referências nos amigos, no grupo social ao qual pertence ou deseja fazer parte. Por isso,
segundo Vanessa Lacombe, é fundamental trabalhar as relações em grupo nessa idade.
O ambiente social da escola faz com que os alunos tenham experiências que contribuam para a
aceitação do outro e o respeito aos diferentes pontos de vista, segundo a diretora Nara Gomes.
"A experiência que ele tem em casa é uma, quando ele convive com outro colega, a realidade
daquele colega é outra, então ele também aprende com aquilo", reforça.
Que aspectos da formação escolar estão envolvidos na formação da
personalidade e da identidade da criança, do adolescente e do jovem?
O desenvolvimento individual se dá de forma contextualizada social e culturalmente. A escola é o
espaço físico, psicológico, social e cultural onde os indivíduos se desenvolvem globalmente,
mediados por uma sistemática metodológica em função dos estágios de desenvolvimento. Na medida
em que a escola sai do papel restrito de promover exclusivamente a aprendizagem de conteúdo,
deve levar em consideração as fases diferenciadas de desenvolvimento, a fim de promover o
desenvolvimento dos papéis sociais de seus alunos. Estes, enquanto protagonistas do próprio
aprendizado, ampliam o repertório de comportamentos constituintes de sua personalidade, com mais
autonomia e independência. Ao ampliar os seus papéis sociais além do ambiente familiar, o
indivíduo desenvolve-se cognitiva, social, física e afetivamente.
Se em uma das instituições (família ou escola), o aluno vai mal, como isso pode afetar o
desenvolvimento da criança?
O aluno reflete em cada um dos seus ambientes o seu interior, que é indivisível. Não é possível
"deixar em casa" os problemas familiares e pessoais, bem como não é possível "deixar na escola"
os problemas enfrentados lá. Sendo assim, é preciso que tanto os pais quanto os professores
fiquem atentos aos seus alunos, observem mudanças de comportamento como isolamento social,
distúrbios gástricos (vômitos, dores estomacais, encoprese, diarréias), distúrbios do sono,
desejo de não voltar para casa ou de não ir à escola, dificuldade de relacionamento, aumento na
agressividade, queda brusca no rendimento escolar, entre outros.
Até bem pouco tempo atrás havia uma clara distinção entre o que deveria ser aprendido nas escolas e em casa, com as famílias. Era papel da escola instruir, passar conteúdo para as crianças. Já às famílias ficava restrito o papel de educar. No entanto, instruir e educar andam juntos, são indivisíveis e não é possível um sem o outro"
E como esses problemas afetam o aprendizado especificamente?
Os problemas emocionais têm influência direta nos processos cognitivos, afetando por exemplo,
memória, raciocínio lógico, concentração, dentre outros. Novamente, é a questão de se ter um
olhar global sobre um indivíduo. Uma criança que se sente pressionada a ler porque todos os seus
amigos já estão lendo, pode desenvolver uma encoprese de fundo emocional, por exemplo. Já um
jovem que sofre bullying pode se tornar isolado e ficar o dia trancado no quarto, sem qualquer
interação social, por exemplo. Outra criança cujos pais passaram um recente divórcio pode ter
uma queda brusca nas notas. E assim, por diante. Nesse caso, cabe a uma das partes comunicar a
outra sobre o que está acontecendo em cada um dos ambientes para que, juntas, possam buscar o
melhor caminho a fim de ajudar o aluno.
Existe, de fato, uma separação entre o que a criança deve aprender na escola e o que deve
aprender em casa?
Até bem pouco tempo atrás havia uma clara distinção entre o que deveria ser aprendido nas
escolas e em casa, com as famílias. Era papel da escola instruir, passar conteúdo para as
crianças. Já às famílias ficava restrito o papel de educar. No entanto, instruir e educar andam
juntos, são indivisíveis e não é possível um sem o outro. O ambiente escolar se diferencia dos
aprendizados em casa na medida em que atende às necessidades cognitivas, sociais, culturais e
psicológicas de forma sistematizada e estruturada.
Renato Souza
Especial para o Correio
Crianças e adolescentes têm diferentes motivações para frequentar a escola. Os menores são
movidos pela novidade, pelo convívio com os colegas e até mesmo pela vontade de usar pela
primeira vez o material escolar. Já os adolescentes costumam ser influenciados pelo contato com
grupos sociais diferentes. Procuram estar próximo de pessoas com as quais se identificam e, por
isso, aguardam a volta às aulas para rever amigos. Existem os casos, no entanto, de estudantes
que rejeitam o ambiente escolar. Seja no fim das férias ou ao longo do ano, o desânimo para
estudar, a recusa em ir para a escola e a criação de motivos para ficar em casa às vezes
aparecem. Esses fatores são sinais importantes para acender o alerta aos pais, que precisam
analisar o que está ocorrendo.
Os sinais variam dependendo da idade do estudante. Crianças pequenas deixam claro quando não
gostam da escola. Choro, pedidos para ir para casa e recusa em seguir para a escola são alguns
dos sinais. Já entre os adolescentes, a oposição em frequentar a escola pode vir por meio de
faltas não informadas aos pais, fuga durante o horário de atividade ou evasão. O fato de o
estudante demonstrar não ter interesse em frequentar a instituição de ensino é um indício de que
algo está errado. A psicóloga Alba Lúcia Martins, professora do Centro Universitário Iesb,
afirma que os fatores que levam à rejeição à escola podem ser explicados por casos mais simples,
como apego aos pais, ou podem ter como origem problemas mais sérios, como a hostilização por
parte dos colegas, por isso, sempre é importante averiguar as causas.
"Não é comum que os estudantes rejeitem a escola. Quando se fala em crianças, essa rejeição é
ainda mais rara, pois elas vão em busca de ambientes novos. Os pais devem acompanhar o filho na
escola o tempo todo. Não se deve esperar o ano seguinte para saber como o estudante está se
relacionando na instituição", explica a especialista.
Nas primeiras séries do ensino fundamental, as escolas investem em jogos, músicas e desenhos.
Essas atividades têm como objetivo acolher o estudante e repassar a mensagem de que a escola é
um ambiente divertido e acolhedor. Mas nem tudo depende do professor. Além da escola, a família
tem um papel importante na independência das crianças e no gosto pelos estudos. A autônoma
Raiane Oliveira e o marido, Wesley de Paula Xavier, ambos de 28 anos, buscaram um ambiente
acolhedor para matricular o filho, Állex Carlos de Paula, 6. Eles conseguiram uma vaga para o
menino em uma creche pública em Samambaia, mas, ao chegar no local, o pequeno começou a chorar e
durante vários meses se recusou a frequentar a instituição. "Assim que o colocamos lá,
enfrentamos muita resistência. Ele chorava muito e não queria ficar. Os primeiros meses foram
bem difíceis, mas com um tempo ele foi se adaptando", conta Raiane.
Incluir Állex no processo de preparação para o início da aula é uma das estratégias que os pais
usaram para a adaptação. "Sempre o levo para comprar o material escolar e isso ajuda na
expectativa pelas aulas. Todos os anos ele escolhe uma mochila de um desenho que está na moda
entre as crianças. Hoje, ele já convive bem com todos e, segundo a professora, até lidera a
bagunça", completa a mãe.
Na adolescência, os sinais são diferentes. Os estudantes conversam mais
a partir do 5º ano do ensino fundamental e essa interação com os colegas aumenta à medida
que as séries avançam. No entanto, em diversos momentos, as conversas podem ser um problema
e motivar até mesmo faltas na escola. A estudante Nátali Danielly, 16, cursa o 2º ano do
ensino médio e conta que já foi prejudicada por desviar o foco dos estudos. "Houve uma época
em que eu tinha muitas amizades na escola. Eu faltava aula direto para ficar conversando,
mas, com o tempo, criei mais responsabilidade", conta. "Tive sorte de nunca ter reprovado na
escola. Hoje, estou mais próxima dos professores e tenho os estudos como prioridade, até
mesmo porque preciso me preparar para o vestibular."
A professora Francimeire Rodrigues dá aulas de ciências para estudantes do 5º ano do ensino
fundamental no Centro de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, em Planaltina. A
educadora destaca que o maior desafio em sala é lidar com os diferentes grupos. "Os
adolescentes procuram pessoas com personalidades parecidas e formam grupos. Quem quer focar
nos estudos procura pessoas que também têm esse objetivo. Já aqueles mais dispersos formam
os grupos que atrapalham a aula. Nesses casos, eu procuro separar os estudantes que formam
grupos que não focam nos estudos", afirma.
Para evitar que os estudantes se dispersem, ela procura ministrar aulas que exijam mais
participação, seja para continuar a leitura que ela começou, seja para responder perguntas
sobre o assunto abordado na aula. "Quem participa mais, ganha mais nota", destaca
Francimeire.
Quando mesmo diante do esforço dos pais e dos professores os estudantes continuam
rejeitando a escola, é hora de investigar mais a fundo o que está acontecendo. Nos casos de
bullying, por exemplo, muitas vezes a criança ou adolescente sofrem em silêncio, com medo de
contar aos pais. Esse receio decorre do constrangimento de levar o problema para dentro de casa
ou até mesmo de temer não ser compreendido pelos familiares.
Acompanhar a vida escolar dos filhos de forma frequente é importante para evitar o bullying.
Essas situações normalmente levam à mudança de escola. Caso a família opte por manter o
estudante na instituição, é importante um trabalho em consonância com a direção e o corpo
docente. "Se o estudante permanece na escola em que sofreu hostilidade, deve haver um trabalho
conjunto com os professores e alunos. Mas é papel dos pais conversarem sempre com os filhos e
identificarem possíveis problemas do tipo", alerta a psicóloga Alba Lúcia Martins.
A mudança de comportamento em casa pode dar dicas. A criança que não quer comer, fica triste
durante o dia e conversa pouco pode estar sendo vítima de comentários ofensivos dos colegas. Se
os pais notarem mudança de comportamento de crianças e adolescentes, é importante entrar em
contato com o colégio, mesmo que por telefone. O ideal é falar com os professores, que conhecem
a rotina de sala de aula.
O que fazer
Saiba como identificar problemas de relacionamento na escola e o que fazer para preveni-los e
solucioná-los
Ir à escola
Os familiares devem estar presentes na vida escolar dos estudantes. Mesmo na fase da
adolescência é preciso conversar com professores e não se limitar a visitar a escola apenas nos
dias de reuniões com os pais.
Entender o problema
Toda resistência tem um motivo. A primeira coisa é tentar identificar o que está afastando o
estudante da escola. É necessário ficar atento para situações de bullying ou a problemas
familiares que estejam atrapalhando o rendimento pedagógico.
Conversar
Aproveite o caminho entre a casa e a escola para conversar com a criança e o adolescente.
Pergunte como foi a aula, o que foi feito e se o estudante está gostando da instituição de
ensino. Evite ligar televisores portáteis ou som alto nos automóveis quando for buscar o jovem
na escola.
Atenção ao isolamento
Crianças e adolescentes que se isolam na sala de aula ou na sociedade exigem mais atenção. O
isolamento pode ser motivado pela ausência de um grupo no qual o estudante se identifique ou até
mesmo tristeza por ser alvo de chacota dos demais.
Buscar ajuda
Caso os problemas persistam por meses, se agravem ou o rendimento do estudante caia bastante,
procure ajuda de um profissional. O ideal é buscar um psicopedagogo para problemas relacionados
à escola. Geralmente as próprias instituições contam com esses profissionais em seu quadro de
funcionários.
Fontes: Alba Lúcia Martins e Francimeire Rodrigues
A lista de material escolar chega com as contas do fim do ano anterior e as de
janeiro, o que deixa boa parte do orçamento comprometida. O que muitos consumidores não sabem é
que é possível parcelar gastos com esses itens, uma vez que é dever da escola fornecer um plano
de execução que mostre quando cada material será usado e, portanto, em que mês será necessário
adquiri-lo e entregá-lo à instituição de ensino.
A especialista em direito do consumidor Simone Magalhães, colaboradora do Instituto Brasileiro
de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon), explica que a Lei Distrital nº 4.311, de 2009,
estabelece regras para instituições de ensino privadas quanto à escolha dos materiais pedidos.
"Especificamente o artigo 2º fala sobre a obrigação de a escola entregar um plano de execução
com a lista. Assim, os pais podem fornecer o material escolar à instituição de maneira gradativa
e isso facilitaria a organização financeira da família", explica a advogada.
O problema é que a maioria dos centros de ensino não cumprem essa obrigação. De acordo com o
Procon, esse índice chega a 80%. No ano passado, das 65 instituições fiscalizadas pelo órgão,
apenas 11 passaram na inspeção. Simone percebe que esse é um ponto delicado na relação entre pai
e escola, afinal é ali que os filhos passam boa parte do tempo e, além da formação intelectual,
conceitos relacionados a moralidade e ética são transmitidos para os estudantes.
"Se os pais perceberem que o colégio não está entregando o plano de execução como é pedido por
lei, o primeiro passo é conversar com a escola. Essa relação deve ser de confiança e ambas as
partes precisam ter uma posição de diálogo", aconselha. Caso isso não resolva, o Procon é o
primeiro órgão que os pais devem procurar. Outra opção é uma ação conjunta no Ministério
Público. Geralmente o primeiro recurso é a negociação pré-judicial.
A lista de material escolar do filho de Gizeuda Lima, 45 anos, veio
acompanhada do plano disciplinar anual. O documento designava em qual período seriam
utilizados os itens, além do objetivo e da descrição das atividades didáticas. A caixa de
gizão de cera, por exemplo, é destinada ao aprimoramento da técnica de pintura e desenho e
será utilizada ao longo de todo o ano. As quantidades pedidas também foram menores. "A lista
deste ano veio bem mais enxuta. Nos anos passados, sempre me assustava com o tamanho",
comemora a analista de sistemas.
Outro ponto polêmico é o pedido de itens como produtos de limpeza ou materiais de
escritório, que não podem ser solicitados. Brinquedos pedagógicos ou livros de literatura
para uso comum também entram no rol dos proibidos, segundo Simone Magalhães. "Uma forma de
esclarecer isso é se perguntar se aquele objeto pode ser individualizado, ou seja, se o
filho será o beneficiado direto do uso", explica.
A especialista Gabriela Mieto, do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento da
Universidade de Brasília (UnB), defende que, em algumas situações, compartilhar o material
faz parte do processo de formação dos pequenos. No caso de tintas coloridas, por exemplo, os
professores podem reunir todas as cores dadas pelos alunos em grandes quantidades para
tarefas coletivas. "É legal que a criança veja que algumas tintas não estão ali no estojo
dela, mas ela aprende a dividir. Tudo isso é paralelo ao conteúdo programático."
Além da experiência em conjunto, o propósito da formação é uma das explicações para as
extensas listas infantis, com vários produtos de artesanato e aparentemente desconexos da
sala de aula. Enquanto os adolescentes têm foco nos conceitos teóricos, a educação infantil
e os primeiros anos do ensino fundamental buscam o desenvolvimento motor e das capacidades
criativas.
A psicóloga explica que produtos como tinta e massinha de modelar são auxiliares para o
professor formular atividades mais interessantes aos olhos da criança. "O ensino tradicional
é baseado na passividade do aluno, em ouvir o conteúdo que está sendo aparentemente
transmitido", afirma Gabriela. Isso não se aplica apenas às aulas de artes plásticas, mas a
todos os conteúdos que tenham contexto lúdico.
Outro exemplo são as sucatas. Caso haja uma razão pedagógica, a escola pode pedir rolos de
papel higiênico para atividades natalinas, por exemplo. Além disso, as texturas são usadas
como uma forma de aprendizagem psicomotora, que mais tarde facilita atividades como a
escrita. "Quando a criança amassa um papel mais duro, conhece a força que ela precisa para
amassar", detalha a especialista.
Para ela, qualquer material pode ser justificável nas listas em questão, desde que
devidamente explicado pelo plano de aprendizagem. "É interessante colocar a justificativa
para a família saber que tipo de uso a escola está planejando. A lista define se é para usar
em casa, em qual aula, dá uma transparência para a família", esclarece. A compra de itens
para a construção de murais pelos próprios professores, por exemplo, não é responsabilidade
dos pais.
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