Politica

Líder tucano, Ricardo Trípoli diz que "Lula deveria disputar as eleições"

Líder do PSDB diz que o petista é de muita bravata e pouco conteúdo, e que perdeu duas vezes para Fernando Henrique Cardoso

Natália Lambert, Paulo de Tarso Lyra
postado em 17/07/2017 06:00
Segundo ele, o partido elegerá uma nova executiva nacional no fim de agosto
Um dos principais defensores do desembarque do PSDB do governo, o líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (SP) afirma que, diante dos fatos que envolvem a denúncia contra o presidente Michel Temer, e na expectativa de outras acusações que possam surgir, o sentimento toma conta da maioria da bancada. ;Entregar os ministérios seria muito bom. Não estamos dizendo que vamos para o campo da oposição. Se estamos marchando, significa que vamos dar continuidade à agenda que é importante para o Congresso e que o governo, sendo esse ou outro, esperamos que se mantenha.;

[SAIBAMAIS]Para o deputado paulista, é importante que a Câmara resolva, assim que voltar do recesso, a votação sobre a admissibilidade de denúncia contra Temer. E afirma que votará contra o arquivamento. ;Se houver uma denúncia contra o presidente, temos de ir até as últimas consequências para não pairar dúvidas a respeito dessa aferição.; Questionado se a sigla apoiará uma gestão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Tripoli diz que o ideal é não participar. ;Vamos apresentar uma proposta de governabilidade, em que o compromisso é com o país, com o Estado brasileiro;, defende.
Se pudesse escolher, o parlamentar pediria que deixassem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer nas eleições. ;O Fernando Henrique ganhou duas vezes do Lula em eleições. Não temos o menor problema com adversários;, garante. Segundo ele, o partido elegerá uma nova executiva nacional no fim de agosto e o nome do candidato à Presidência da República deve sair no fim do ano ou, no máximo, no começo do ano que vem. E, a despeito da opinião do prefeito de São Paulo, João Doria, sobre decidir baseado em pesquisa, Tripoli afirma que a escolha será do partido.

Está marcada para 2 de agosto a votação em plenário da denúncia contra Temer. É possível resolver assim que voltar do recesso?

Espero que sim. É importante o país resolver isso de forma definitiva, embora tenham ainda mais dois casos que o procurador-geral da República deve encaminhar para o Supremo, e o Supremo, aqui à Casa.

O presidente corre o risco de perder votos por causa desse contato dos deputados com a base?

Já não substituíram 14 ou 15 deputados na CCJ? É uma demonstração de que você, em tese, não tem votos suficientes para barrar a denúncia. Em plenário, não muda a situação. Você vai ter claramente quem vota a favor e quem vota contra. Acho muito provável que, na primeira semana de agosto, o resultado não seja satisfatório ao governo. Cada um fará uma reflexão agora. O Brasil precisa voltar a crescer. Temos de aprovar o restante das reformas, diminuir o desemprego. Isso aflige a todos. Por outro lado, não podemos jogar o país em uma aventura, tanto que o mercado financeiro tem reagido muito bem aos movimentos que estão sendo feitos, o que demonstra que as instituições estão funcionando. A reforma trabalhista foi aprovada. Está andando.

Uma eventual gestão de Rodrigo Maia já foi prevista?

Não, acho que a trabalhista foi um bom indicador. Votamos o teto dos gastos públicos, a terceirização, a questão da educação foi importante. É uma demonstração de que essa agenda é do país, não do governo. Isso ficou mais amplo do que imaginávamos no início e fico feliz porque foi uma agenda apresentada pelo PSDB.

E o PSDB vai desembarcar?

Recentemente, fizemos uma reunião da bancada que levou cerca de quatro horas e, entre as análises, estava essa. Percebo, nitidamente, que aumentou muito o número de deputados que querem a admissibilidade da denúncia, até para poder ter transparência e apuração de todos os fatos. No início, quando fizemos uma reunião do diretório nacional, era o contrário, a maioria pela permanência. Hoje, é a minoria. Entregar os ministérios seria muito bom. Não estamos dizendo que vamos para o campo da oposição. Se estamos marchando, significa que vamos dar continuidade à agenda que é importante para o Congresso.

O PSDB estaria em um eventual governo Maia?

A minha proposta para a bancada é no sentido de que, havendo um próximo governo, a gente não indique ministério nenhum. Vamos apresentar uma proposta de governabilidade, onde o compromisso é com o país.

Há negociações com o Maia?

Pergunto para você: se a Constituição diz que ele foi eleito pela Câmara para ser presidente, por maioria, e a lei diz que, na vacância do cargo, ele assume, o que questionar? Se ele foi confiável para assumir a presidência da Câmara, é confiável para assumir a Presidência da República. Não vejo impedimento.

Mas ele seria um nome para ficar até 2018, em uma eleição indireta?

Aí é uma outra questão. Temos de fazer as coisas por etapas. Para esta primeira fase, não vejo problema nenhum na bancada, nem no partido. Agora, para a segunda fase, obviamente, a bancada, o presidente nacional do partido e o diretório vão conversar. É conversa mais ampla.

O papel de coadjuvante do PSDB atualmente está incomodando?

Não, o PSDB ingressou com a representação, tanto que recorremos da decisão e o próprio Ministério Público de ofício também recorreu. A ideia é dar continuidade. O que nós entendemos lá atrás, entendemos hoje. Você não pode ter prática e discurso diferenciados. Se dissemos, à época, que havia abuso econômico, existia abuso da chapa e a chapa é o candidato a presidente e o vice.

Era melhor que o TSE tivesse cassado a chapa?

Havia um entendimento de que o ideal seria que houvesse um julgamento e, com isso, se encerrasse o episódio, mas o entendimento do tribunal foi inverso, embora o parecer do relator, ministro Herman Benjamin, tenha sido muito bem fundamentado. Mas, em um determinado momento, o advogado do PSDB pensou em retirar a acusação. Não chegou a pensar em tirar, porque ele é advogado. O partido é quem determina o que ele deve fazer. Pode se retirar da causa, mas o advogado, de forma alguma, pode retirar a causa.

Mas ninguém pensou nisso para manter o Temer?

Não, de forma alguma.

Com uma eventual mudança de governo, o PSDB pode chegar em 2018 sem protagonismo?

Não, o PSDB deve ter uma convenção no fim de agosto e vamos eleger um novo diretório nacional, uma executiva nacional e apresentaremos uma proposta visando 2018. O partido se prepara para um novo embate, não tem problema de adversário. Disseram que o Lula vai ser candidato, mas qual o problema? O Fernando Henrique ganhou duas vezes dele em eleições. Não temos problema com adversários.

Uma nova executiva inclui uma nova presidência? O senador Aécio Neves sairá?

Com certeza, nós teremos um novo diretório, que planeja uma nova executiva. Consequentemente, um novo presidente, também. O Aécio já está resolvido. Na convenção, quando houver convenção, ele vai anunciar.

Como está o tema Aécio no PSDB?

Ele continua sendo um presidente, que está licenciado. O Tasso assumiu e está conduzindo muito bem o partido. Ele interage com a bancada federal, com os senadores, governadores, presidentes de diretórios. Ele está cumprindo aquilo que é determinado a ele. Sobre o Aécio, espero que ele seja absolvido das denúncias que foram feitas. É o que o partido todo espera dele.

Fernando Henrique defende a renúncia do Temer e eleições diretas, como o senhor avalia?

E faz muito bem. O Lula estava achando que estávamos com medo de eleições diretas, ficou claro que não temos medo. Se tivesse, nenhum problema. Mas não vai andar esse debate (de diretas), né? Então, o que que adianta?

Mas seria melhor que esse clima de instabilidade?

Não temos nenhum receio de eleição direta, pelo contrário. Participamos de todas as eleições diretas desde a redemocratização do Brasil, sempre apresentando quadros que são altamente capacitados para exercer a função da presidência. Ganhamos algumas, perdemos outras.

Seria golpe, como dizem alguns, ou a solução para pacificar o país?

A ideia inicial era que pudéssemos aguardar até o término. O melhor é cumprir o que determina a Constituição. Agora, se a saída para o presidente for a renúncia, não vejo problema. Nos EUA, quando Nixon sai, o Ford entra, induta e a Câmara convalida. No Brasil, o indulto é só para preso no fim de ano. Não isso, para dar um certo conforto ao presidente.

Isso quer dizer que o medo de ser preso assusta o Temer?

Não sei. Eu estou dizendo o que pode e o que não pode. Você tem de perguntar para ele.

O Brasil corre o risco de sangrar até janeiro de 2019?

Não, o Brasil está caminhando bem. O primeiro momento foi o mais difícil. As primeiras duas semanas (da denúncia), até o pessoal entender o que estava acontecendo. Agora, a classe política está vendo, as coisas estão andando.

Mas um salto de verdade só em 2019, não?

Se o presidente sai, com certeza, quem entra vai querer fazer muito mais do que o que saiu. A tendência é você buscar caminhos novos, melhores que aqueles que foram deixados para trás. Não estou, com isso, diminuindo a importância do presidente Temer. Ele incorporou a agenda e fez muito bem. Errou em uma questão de ordem pessoal.

Ele não tem mais condição de tocar a agenda?

Não é que eu ache que não tem governabilidade. O problema é que ele tem que estar a todo momento respondendo a essas questões e isso trava o processo. Quando fizemos a avaliação lá atrás, dissemos que íamos fazer um monitoramento diário. Se houvesse instabilidade, estaríamos em outro campo, até porque não podemos deixar o Brasil ir para uma aventura. Acontece que você tem uma defesa frágil e tem outros casos ocorrendo a cada instante. As pessoas não estão nas ruas. Tivemos agora a condenação do Lula e, tanto de um lado, quanto de outro, houve manifestações pífias. A população está esperando o resultado do país. A sociedade hoje conversa muito mais do que antes. Nas redes sociais, há uma mobilização grande, mas você não vê rua.

Por quê?

Acho que estão aguardando o resultado positivo. Quando você vê a bolsa de valores subir e o dólar baixar, é um sintoma de que a economia está caminhando e duvido que alguém mexeria nesse nicho do país.

A condenação do Lula é boa para o PSDB?

Quem tem que avaliar é o PT. Não trabalhamos com essa hipótese de que o Lula não participe das eleições. Acho que ele deveria participar. Eu, se pudesse, diria ;deixe que ele participe;. É um direito que assiste a ele. É muita bravata, muito discurso e pouco conteúdo. E o Lula faz isso com muita competência. Ele coloca essa de ;cuidado comigo, tô chegando, sou candidato;. Essa política não existe mais faz muito tempo.

E o PSDB, vai de Doria ou Alckmin?

Quem a convenção determinar. O PSDB vai apresentar um candidato preparado, com programa novo, oxigenado, com uma visão moderna para o Brasil. Por que vocês tiraram o Tasso dessa possibilidade?

Mas isso vai depender de uma decisão da executiva ou das pesquisas, como o Dória defende?

O partido é quem define. Pode ser que tenha como orientação as pesquisas. Mas os governadores, os deputados federais, os senadores, esse colégio que vai dizer o melhor caminho. As pesquisas ajudam, mas não definem. Se fosse pesquisa, o (Fernando) Haddad em São Paulo, com 3%, não seria prefeito. E estou dando o nome que não é do PSDB.

E essa divisão de cabeças-pretas e cabeças-brancas dentro do partido?

Não sei quem inventou esse negócio. Isso não existe. O João Alberto tem 60 anos e é o comandante da turma na Bahia. Tomei como meta, quando fui eleito líder, que chegou o momento de impulsionar a juventude do partido. Uma coisa que há muito tempo o partido devia à juventude partidária. Por conta disso é que designei o meu primeiro vice-líder, o Pedro Cunha Lima, que tem 28 anos. Nas três comissões, duas deputadas na faixa de 30, 32 anos. São jovens que estão em uma linha de frente. Isso é muito bom e é um indicador de que, na próxima convenção, a gente tem de ter mais jovens no diretório nacional para impulsionar esta política moderna. Esta política de uma nova geração, um novo momento para o Brasil. Quem estiver pensando na velha política, desista. Você vai falar para ninguém. A política antiga está nos livros, na história.

Ter um ex-presidente condenado, um presidente denunciado e a possibilidade de ter um terceiro presidente em menos de um ano é sinal de que nossa democracia está passando por uma crise grave?

Estamos cumprindo um trajeto democraticamente. Não há nenhuma sinalização de que não estamos cumprindo o que determina a lei. Se dissemos que todos são iguais perante a lei, por que agora estaríamos pensando de forma diferente? Seria você trabalhar por um processo ditatorial, um processo que não é aquele que pretendemos para o Brasil. Podem falar o que quiserem do Brasil menos que aqui não tem democracia.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação