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Celeiro do mundo, o Brasil passa por uma transformação silenciosa. Conhecido internacionalmente como um dos principais exportadores de commodities do planeta, o país tem a oportunidade de passar a ser o maior provedor de tecnologia e inovação do agronegócio, por meio das agtechs, as startups criadas para potencializar a produção rural. Dados da AgTech Garage apontam que existem pelo menos 200 plataformas espalhadas por todo o território nacional que oferecem serviços de monitoramento de pragas, de clima, de gerenciamento de lavoura, garantindo aos produtores ganhos de produtividade e economia com custos de produção.
Assim como as fintechs têm transformado o sistema financeiro e amedrontado os bancos tradicionais, as agtechs têm levado as principais empresas do agronegócio a mudar de perfil. O setor ganhou destaque em 2013, quando a gigante norte-americana de biotecnologia e agricultura Monsanto comprou a companhia de análise e gerenciamento Climate Corporation por US$ 930 milhões. Entre 2014 e 2017, as startups agrícolas movimentaram pelo menos US$ 14,6 bilhões, conforme dados da AgFunder, uma plataforma on-line de capital norte-americana.
[SAIBAMAIS]Somente em 2014, as startups agrícolas receberam aportes de US$ 2,4 bilhões em 264 negócios fechados. Esse valor superou o movimentado, por exemplo, pelas fintechs, com US$ 2,1 bilhões, e pelas de tecnologia limpa, de US$ 2 bilhões. O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Guto Ferreira, avalia que as agtechs têm potencial para mudar completamente o agronegócio no Brasil. ;As agritechs vão levar o país de um produtor de commodities para principal provedor de inteligência agro do mundo;, afirmou.
Ferreira destaca que o Brasil está entre os três principais provedores de inovação no campo do mundo. Ele explica que Petrolina (PE), Sorriso (MT) e Piracicaba (SP) estão entre os três principais polos de desenvolvimento tecnológico e de startups agrícolas do país. ;O que é criado aqui pode ser exportado para todo o mundo. Temos empresas de ponta e com potencial para serem adquiridas pelas gigantes do setor, que perceberam que não podem vender apenas sementes ou defensivos;, disse.
Colaboração
O primeiro senso de startups agrícolas promovido pela AgTech Garage, em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), apontou que existiam 76 empresas no Brasil. O número mais que dobrou e cresceu 163,2% de um ano para o outro. Segundo o diretor da AgTech Garage, José Tomé, o movimento empreendedor passou a olhar para o agronegócio como oportunidade de geração de riquezas e inovação.Uma das startups que mais cresce no país é a ZeusAgrotech, que oferece aos produtores rurais uma análise sobre o clima na propriedade e as projeções para regime de chuva. A partir da contratação do serviço, sensores de coleta são instalados na propriedade, que transmite por satélite ou redes 2G e 3G dados atmosféricos da fazenda para a plataforma.
As informações são usadas para calibrar automaticamente mapas de chuva exclusivos para as lavouras. Os produtores podem acessar por computadores, notebooks e smartphones. Com isso, é possível diminuir gastos e aumentar a rentabilidade. Alguns usuários relatam economia de R$ 150 mil com aplicação de defensivos agrícolas, por exemplo. É possível projetar o regime de precipitações para os próximos 10 dias e para os próximos seis meses.
Outro exemplo de sucesso é a Strider, criada em 2013, que desenvolveu um dos primeiros softwares de monitoramento e controle de pragas com uso de tecnologia da informação. A companhia atende mais de 600 produtores rurais no Brasil e nos Estados Unidos. Em agosto de 2016, a companhia já fazia o monitoramento de 1,2 milhão de hectares. Além disso, a startup oferece aos clientes serviços de monitoramento de máquinas em tempo real, mapas de calor para identificar cada pedaço da fazenda que precisa de mais atenção e uma plataforma de gerenciamento do negócio.