postado em 25/01/2017 09:37
A pior crise hídrica da história do Distrito Federal contribuiu para que a arrecadação da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) aumentasse. Desde dezembro, cerca de 112 mil usuários estão pagando a mais pela conta de água. Isso corresponde a pouco mais de R$ 2,5 milhões, referentes ao pagamento da tarifa de contingência, válida para todos os consumidores que gastarem mais que 10 mil litros de água no mês. Os únicos livres da cobrança são prestadores de serviços de caráter essencial, como hospitais, hemocentros, centros de diálise, prontos-socorros, casas de saúde e estabelecimentos de internação coletiva ; a exemplo de presídios.
A conta com vencimento em fevereiro do servidor público aposentando José Guimarães da Silva, 78 anos, pesou no bolso. O total da fatura chegou a quase R$ 725. Desse montante R$ 120,28 corresponderam à tarifa de contingenciamento. Por lá, são duas casas no mesmo lote. Ele alega que o alto consumo não se deu em virtude do uso excessivo de água, mas em razão de um vazamento identificado e já consertado. ;É um valor muito alto. Pesquisamos o que poderia ser e vimos esse defeito no encanamento. Agora, espero que abaixe o valor no próximo mês;, disse.
No lote, residem cinco pessoas. A também servidora pública aposentada Nalva Bomfim, 74, relatou que, desde o início do anúncio de escassez de água para abastecimento, adotou medidas de economia na residência. ;O banho é reduzido e a água da máquina de lavar passou a ser reaproveitada em tarefas domésticas. A garagem, por exemplo, tem um bom tempo que não é lavada;, detalhou. Para o marido, o problema da crise hídrica vai além do desperdício. ;Não houve investimentos nos últimos tempos com o sistema de distribuição, agora estamos sofrendo com o racionamento e com essa taxa absurda;, reclama.
[SAIBAMAIS]A taxa reclamada por José foi implantada pela Agência Reguladora de Águas (Adasa) no fim de outubro, quando o nível da Barragem do Descoberto chegou a menos de 25%. A medida afeta quem consome mais de 10 metros cúbicos (ou 10 mil litros) de água por mês. De acordo com o órgão, cerca de 40% das residências daqui gastam menos que o indicado para a cobrança extra. A resolução atende à Lei n; 11.445, de janeiro de 2007, que permite ao ente regulador adotar mecanismos tarifários de contingência em situação de escassez. A cobrança só acaba com nova resolução da Adasa, quando for entendido pelo órgão que não há mais riscos de desabastecimento. O valor não incide sobre a tarifa de esgoto. Segundo a Caesb, ;a única exceção de cobrança foram os usuários que tiveram as contas faturadas no período em que esteve em vigor a liminar que proibiu a cobrança. Para eles, foi enviado um comunicado informando que a cobrança relativa ao mês de dezembro será lançada na conta de fevereiro;.
Desperdício
Apesar do plano de racionamento que entra na segunda semana, ainda é possível presenciar o desperdício de água. O Correio flagrou, no Guará, ao menos duas situações. Na QE 12, dois moradores varriam a calçada da residência com o auxílio de uma mangueira. No conjunto ao lado, outra mulher lavava a garagem da casa. Na QI 18, um prédio esvaziava a caixa-d;água para limpeza do equipamento. A síndica do prédio justificou à reportagem que aproveitou que seria feito um reparo em um vazamento na estrutura para também realizar a limpeza.
A Caesb apontou uma economia de 258 milhões litros de água na primeira semana de racionamento ; medida que vem fazendo a população abastecida pela Barragem do Descoberto, que ontem chegou a um nível de 21,39%, adaptar-se a uma nova realidade. É o caso do estudante de tecnologia da informação Michael Silva, 27. Para não ficar sem água, ele passou a estocar a água em baldes. ;Também passamos a encher garrafas pets para consumir. O banho também ficou mais rápido.;