Cidades

Má gestão faz com que usuários desconheçam até itinerários de ônibus

Renato Alves
postado em 10/06/2011 08:00
A falta de compromisso dos empresários de ônibus e a incompetência do poder público para garantir o bom funcionamento do sistema de transporte público da capital fica mais evidente quando se compara o cenário de Brasília com o de outras grandes cidades. Enquanto os permissionários controlam o serviço no Distrito Federal, deixando governo e usuários sem qualquer informação, municípios de norte a sul do país usam tecnologia de ponta para monitorar toda a frota e itinerários.

Nenhuma das paradas de ônibus do DF têm placa informando as linhas, trajetos e horários dos ônibus. Nem mesmo na Rodoviária do Plano Piloto os passageiros conseguem obter uma tabela com esses e outros dados do serviço. Mesmo tendo uma sala com muitos funcionários no o maior terminal da capital, o DFTrans só torna pública tais informações por meio de seu site, que, em muitos itens, está totalmente desatualizado. Os painéis luminosos da plataforma inferior deveriam informar o horário e o itinerário, mas vivem apagados. Só a parte superior do equipamento, destinada à publicidade, apresenta-se em perfeito estado.

Um dos exemplos que Brasília poderia copiar vem de Belo Horizonte. Na capital mineira, o segredo para manter as empresas na linha é a fiscalização eletrônica. Por meio de dois softwares, o governo municipal controla o cumprimento dos horários e se tem superlotação. A prefeitura ainda fiscaliza qualquer sinal de anormalidade por meio da leitura do disco de tacógrafo. O número de fiscais é pequeno ; 22 para todo o sistema ; mas o órgão responsável pela gestão do sistema tem 100% do controle dos veículos com ajuda da tecenologia.

Melhor ocupação
Em Curitiba, a relação passageiros por ônibus/mês é a mais alta entre as capitais brasileiras. São 25.372 usuários por mês ou 35 pessoas por dia por veículo. Ainda assim o transporte da capital paranaense é considerado modelo no país. Na capital paranaense, a qualidade do sistema é definida da seguinte forma: nos horários de pico, um ônibus comum, com 12m de comprimento, deve transportar 44 passageiros sentados mais seis passageiros por metro quadrado em pé. Uma média de 80 pessoas por veículo. Os articulados circulam com no máximo 160 pessoas e os biarticulados, com 230.

O sistema curitibano passa por avaliação semestralmente. Se a demanda ultrapassa o limite fixado, as empresas têm de colocar mais ônibus na linha. Se o número de passageiros pagantes aumenta ; avaliação diária ;, a reavaliação do sistema é antecipada. Para fazer cumprir as metas, os horários e os itinerários fixados pelo governo, 250 fiscais acompanham a prestação de serviço das empresas.

A eficiência do transporte de Curitiba se deve também à infraestrutura construída para o transporte coletivos nos anos 1980. Lá existem corredores exclusivos, terminais de integração e cobrança antecipada nos terminais. O sistema funciona como uma rede e parte do princípio que o usuário paga o valor de uma passagem para chegar ao destino, ainda que use mais de um ônibus.

Incoerências
O grande problema do DF não está na quantidade de ônibus ou de linhas. As incoerências do sistema de transporte também aparecem na quantidade passageiros transportados mensalmente em cada ônibus. Apesar de contar com uma frota de ônibus 67,8% maior do que a de Curitiba e de ter um número de linhas quase três vezes maior, o número de passageiros transportados no DF é 29,6% menor do que o da capital curitibana. Em média, são 10,6 mil por mês ou menos de 15 usuários por dia em cada veículo. Teoricamente era para o passageiro ter o mínimo de conforto, como fazer as viagens sentados. Mas não é isso que ocorre. As cenas de ônibus abarrotados de gente são comuns.

Nos horários de entrepicos, dezenas de veículos ficam ociosos em diversos pontos da cidade. Enquanto isso, a população que precisa se locomover fora dos horários de pico espera por até duas horas no ponto de ônibus. Uma das causas é que o sistema de integração com os ônibus não sai do papel. Assim, os carros de passeio ocupam 80% das vias e carregam apenas 20% dos passageiros. Os ônibus, ao contrário, transportam 80% dos passageiros e ficam espremidos em 20% das vias.

Estudioso do transporte público do DF há 18 anos, o professor Paulo César Marques, da Universidade de Brasília (UnB), defende uma remodelação completa do sistema. ;Chegamos ao caos por causa da omissão do poder público, que abriu mão da sua obrigação de gestor. O transporte deixou de ser tratado como um serviço público e passou a ser um mero item de mercado, sem qualquer regulamentação;, critica.

Cobrança ilegal
A 17; Vara Cível de Brasília condenou a empresa Fácil por cobrar, indevidamente, uma tarifa pelo acesso, via internet, dos boletos para pagamento do sistema de bilhetagem automática. A ação era movida pelo Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). Ele reclamou da taxa de 2,57% sobre o valor das passagens toda vez que as empresas acessam, pela internet, o sistema de geração de boletos para pagamento da bilhetagem. Segundo o Sindivarejista, a cobrança seria contrária à determinação anterior da própria Secretaria de Transportes. Na sentença divulgada ontem, o juiz declarou nula a cobrança das tarifas adicionais aos preços das passagens vendidas e mandou a Fácil restituir aos associados do Sindivarejista os valores cobrados em excesso. A multa foi fixada em R$ 1 mil para cada boleto de cobrança emitido via internet daqui pra frente.

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