Além dos problemas de sinalização, retorno, acostamento e passarelas suspensas, a BR-040 oferece abrigos precários para quem espera diariamente por um transporte público. Para se ter noção do perigo, três paradas de ônibus acabaram destruídas em acidentes ocorridos desde o ano passado. Dois deles só neste ano. O mais recente, registrado na última terça-feira, terminou com a morte de uma mulher. Sem acostamento adequado, os pontos ficam a menos de dois metros da rodovia. Isso reflete em insegurança e perigo constantes.
O Correio percorreu ontem os primeiros 12 quilômetros da rodovia, a partir de Valparaíso (GO). É o trecho no qual quatro vítimas morreram em acidentes de trânsito. A maioria era de pedestres que, sem opção, tentaram passar de um lado para o outro e acabaram atropelados. Do km 1 ao km 12, a reportagem identificou acostamentos rachados, passarelas enferrujadas e escoradas por pedaços de madeira, inexistência de redutores de velocidade, pessoas se arriscando em meio aos carros, motoristas em alta velocidade e retornos curtos (veja arte).
A falta de paradas de ônibus adequadas, no entanto, expõe o descaso do poder público com a BR-040. Na altura do km 4, a irresponsabilidade e a falta de estrutura da via tiraram a vida de Luana Rodrigues, 26 anos. Ela e a filha, de 9, foram atingidas por uma carreta enquanto aguardavam uma condução em um ponto de transporte público. O caminhoneiro tentou desviar de um carro, saiu da pista e acertou as duas vítimas. Luana morreu no local, e a menina foi encaminhada para o Hospital Regional de Santa Maria. O abrigo ficou destruído.
No km 12, outra parada acabou demolida há cerca de um ano, quando um motorista perdeu o controle do carro e derrubou a estrutura. Dessa vez, ninguém ficou ferido. Mas até hoje o concreto arrebentado continua no chão. E ainda serve de assento para os moradores do bairro Santa Rita. Mesmo sob o sol forte, a estudante Roseane Ferreira, 17 anos, esperou por alguns instantes um ônibus para Luziânia (GO). Desistiu minutos depois, pois não aguentou o calor. ;É a segunda vez que essa parada é derrubada. Acho um horror toda essa situação. Já bastam todos os problemas da cidade;, reclamou.
;Bomba;
Há cerca de um mês, mais uma parada foi destruída após ser atingida por um caminhão. Com o filho de dois meses no colo, a auxiliar de cozinha Dina Maria Vieira, 19 anos, teve de esperar em pé a passagem de um coletivo. Sem abrigo, o jeito foi proteger a criança com um pano. A espera durou mais de duas horas em meio à poeira e à poluição dos carros, que passavam a poucos metros de quem estava no ponto de ônibus improvisado na altura do km 2. ;Eles (os motoristas) só faltam passar em cima da gente. Eu tenho muito medo, porque é um risco muito grande que a gente corre;, explicou.
O mesmo veículo que destruiu o ponto também deixou avarias na lateral da passarela de pedestres. A travessia suspensa sobre a rodovia, usada diariamente por cerca de 15 mil pessoas. é agora sustentada por estacas. Quem passa por ela reclama de insegurança. ;Isso é uma bomba. Ela pode cair a qualquer momento e, então, será realmente uma tragédia;, afirmou o pedagogo Gilberto Nascimento, 28 anos. ;Eu moro há 16 anos em Valparaíso e a única coisa que fizeram nessa passarela foi passar uma mãozinha de tinta;, denunciou o professor Hugo Bites, 27.